
A presente pesquisa, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade Federal de Pelotas, objetiva investigar a narrativa imagética e textual na graphic novel V for Vendetta(1982-1988), criada pelos britânicos Alan Moore e David Lloyd a partir da sua relação com aspectos do passado, mais especificamente, com a política e sociedade da Inglaterra da década de 1980.
Como criação artístico-cultural, acreditamos que seu período de produção, o qual, é concomitante aos mandatos de Margareth Thatcher (1979-1990), conhecida por promover o neoliberalismo na Inglaterra, foi crucial para as referências a que a obra contém, como a tomada de posição política dos seus idealizadores. Nesse sentido, este trabalho conta, como referencial teórico metodológico os estudos de autores, como Ankersmit, White, Hutcheon, Kellner, Foucault, entre outros, os quais possibilitaram vislumbrar a obra não como mera fonte, mas como uma construção histórica da década de 1980 inglesa.
A proposta de análise pauta-se na versão original da obra, em entrevistas com os autores e documentários. A partir das reflexões efetuadas , percebemos que a construção histórica em V For Vendetta mantém aproximações com as narrativas historiográficas, visto que tanto nosso objeto de estudo quanto a historiografia apresentam interpretações sobre uma “realidade” passada.
V For Vendetta, como demonstra Krüger nas páginas do livro, pode ser entendida com uma obra já sintomática desta conjuntura de confusão das linhas temporais.
Na Inglaterra imaginada por Moore para anos 1990, o fascismo havia retornado, por consequência principalmente de uma guerra nuclear ocorrida em fins da década de 1980, de modo que antigos espectros voltaram a se tornar realidade nas terras da antiga e orgulhosa Albion: campos de concentração, extermínio de dissidentes e minorias sexuais e étnicas, e horrendos experimentos científicos com seres humanos, organizados por um estado totalitário e certamente inspirados pelas práticas europeias anteriores.
Mesmo que, evidentemente, se tratasse de um futuro imaginado, não podemos deixar de ver neste enredo aquela presença de um passado que insiste em não passar e que, por conta disso, pode voltar à vida a qualquer momento.
