Consideramos que o patrimônio cultural de uma dada sociedade compreende as diferentes formas de expressões culturais produzidas e articuladas por suas comunidades locais, possibilitando tanto identificações com um certo tipo de continuidade e tradição, quanto um potencial de criatividade cultural e inovação. Assim, o projeto de pesquisa Lazer, Festividades e Patrimônio Cultural na Baía de Todos os Santos, que inspira esta coletânea, busca mapear essa diversidade no cenário festivo da Baía de Todos os Santos, conferindo especial atenção aos eventos festivos que ressaltam as sociabilidades tradicionais, sem, no entanto, desconhecer arranjos com características festivas mais modernas e globalizadas. Junto com os autores, iremos descobrir elementos estéticos, ritualísticos e performáticos que contribuem para as formas locais de sociabilidade lúdica e festiva.
Os municípios que compõem a territorialidade da Baía de Todos os Santos serão aqui conhecidos como espaços (marítimos e terrestres) festivos, isto é, territórios das emoções e da afetação lúdica, dos sentimentos de pertencimento, da construção de vínculos, das afirmações implícitas ou explícitas de dissimetrias possíveis (de senioridade ou gênero), das habilidades artísticas etc. O tempo forte da festa é também aquele das socialidades primárias que se encontram agenciadas pelos tantos “fazeres” implícitos na organização e na gozação das celebrações.
Um dos resultados mais imediatos de uma pesquisa sobre lazer e patrimônio cultural das comunidades da Baía de Todos os Santos refere-se, portanto, à possibilidade de uma melhor compreensão e visibilidade da diversidade de suas formas de sociabilidade. Conhecer os territórios e as práticas de lazer e festividades nos auxilia na compreensão das transformações mais amplas que se encontram em curso.
Devemos urgentemente considerar o impacto que as transformações relativas à globalização vão produzindo nesses segmentos sociais extremamente vulneráveis, e é na realidade dos territórios e dos fazeres locais que as dinâmicas transformativas podem ser consideradas, numa dialética entre o local e o global.
O estudo do patrimônio imaterial e material traz à tona as habilidades e sociabilidades locais associadas, por exemplo, à economia tradicional (pesca, culinária, artesanato etc.), às formas de lazer comunitário, às identidades étnicas e religiosas que fazem a festa.