Considerado como o testamento filosófico de um dos maiores pensadores do século XX, O Mito Do Estado foi escrito a pedido de seus amigos que queriam compreender as origens e as causas do nazismo.
Sem pretender reduzir o trágico da História, Cassirer convida o leitor a repensar a relação da modernidade com o mito.
Além de reconstituir a memória da Razão, remontando a história de todo pensamento político, O Mito Do Estado também é a obra de um filósofo que pleiteava, por meio de uma crítica ao mito, que a razão política não deveria fugir da mais importante de suas funções: reafirmar a cultura contra as tentações de erigir a ideologia e, por conseguinte, a violência em razão.
Segundo Cassirer, linguagem, mito e conhecimento são três fronteiras distintas mas justapostas nas quais o espírito humano avançou em seu esforço para submeter ao seu poder o caos de sensações orgânicas.
Formas de percepção, como espaço, tempo e número, a par de conceitos tais como substância e causalidade, têm suas origens em símbolos, imagens e atos primitivos.
O fato de as nossas formas de conhecimento estarem interligadas com as da linguagem e do mito sugeriu a Cassirer a resposta para um outro problema da filosofia, o da relação entre a busca humana de conhecimento e a preocupação do homem com a religião, a moral e a arte.
A partir desse ponto, a filosofia das formas simbólicas deixava de ser uma filosofia da ciência para projetar-se numa filosofia da cultura, em que linguagem e mitologia deixaram de ser tratadas como simples etapas para a aquisição do conhecimento, para serem considerados processos divergentes mas complementares pelos quais o homem se alçou dos animais e se tornou o senhor de tudo o que seu espírito explora.
As duas obras que Cassirer escreveu no exílio norte-americano, durante a II Guerra Mundial, a presente O Mito Do Estado e Ensaio Sobre O Homem, devem ser vistas como criações exemplares no contexto da filosofia da cultura e uma interpretação ímpar da crise intelectual de que o mundo não logrou ainda libertar-se, apesar da esperança que Cassirer depositava, com o otimismo característico de um legítimo herdeiro do Iluminismo setecentista, na capacidade do homem para resolver seus problemas mediante o corajoso uso de seu espírito.