Pensar formas de gestão pautada em valores como solidariedade, cooperação, democracia, igualdade de oportunidades, sustentabilidade ambiental e respeito às relações entre sociedade e organização, demanda um ponto de partida diferenciado, que substitua a racionalidade instrumental pela racionalidade substantiva, como proposto por Guerreiro Ramos.
Trata-se de nadar contra a corrente da lógica dominante, que sustenta que a desigualdade social é resultado de competências e incompetências individuais, que o sistema como um todo oferece oportunidades iguais.
Para pensar nessa outra lógica de gestão, é necessário desnaturalizar que o lucro é a única finalidade organizacional, e que a competição é a única possibilidade de relação entre as organizações.
Várias formas organizacionais e perspectivas de gestão têm sido tratadas no sentido de retirar essa centralidade do lucro e de relações assimétricas de poder, entre elas, a gestão social é um conceito que vem sendo debatido mais intensamente a partir da década de 1990.
Contudo, como um termo ainda em construção, tem sido questionado quanto à sua viabilidade de constituir-se em uma forma de gestão adequada para organizações sociais, ou seja, se essa prática de gestão permite a sobrevivência de organizações no contexto de competitividade imposto pela lógica do mercado, ou se ele só seria possível em outra sociedade que não a capitalista.
Para lidar com esse questionamento, Gestão Social E Agricultura Familiar propõe um recorte nessa discussão e toma o binômio gestão social e agricultura familiar como um campo para analisar essas relações.
A agricultura familiar, particularmente aquela desenvolvida no Semiárido nordestino, foi tomada como lócus para a gestão social por sua natureza, ou seja, diferente da agricultura patronal, não tendo o lucro como norte central de suas ações, mas, ao mesmo tempo, comercializa a produção excedente no mercado como forma de viabilizar a complementação das demandas de sobrevivência.
Nesse sentido, é uma prática que pode transitar entre a lógica instrumental e substantiva e, nesse sentido, se torna um bom campo para se compreender como os princípios da gestão social podem ou não ter boas respostas para os dilemas da competição e cooperação.