A temática do corpo ganha visibilidade na filosofia contemporânea, porém sua herança é muito mais antiga. Em um primeiro momento, a temática se justifica a partir do lugar hermenêutico da filosofia patrística, na trama das culturas grega e judaico-cristã.
A pesquisa da qual emerge este livro pretende sanar uma das lacunas na História da Filosofia que tende a reduzir tal estudo ao versículo “E o Verbo se fez carne” (Jo1,14), desconsiderando interpretações oriundas de culturas da Antiguidade, nas quais a noção de corpo e/ou carne encontram-se atrelada a uma visão mais unitária do humano, que inclui também a morte.
Tal visão – muitas vezes desconsiderada na história da filosofia – aparece, por exemplo, na literatura de Homero que apresenta uma concepção do humano “cósmico”, aquém ou para além da visão dualista que vem do orfismo e do pitagorismo e que, por sua vez, exerce influências em Platão.
Deste modo, o presente estudo pretende investigar os germes da noção de corpo considerando tal questão a partir das culturas clássicas, perpassando a Patrística – com sua “filosofia da encarnação” – e alcançando a filosofia contemporânea – com a fenomenologia – onde se desenvolve, propriamente falando, uma “filosofia do corpo”.
Neste sentido, tal investigação se justifica de modo original a partir de dois pressupostos, por um lado, afirmando que tal noção de carne presente na Patrística é já imbuída por uma trama de culturas, a saber, a judaico-cristã e helênica; por outro, pretende-se analisar até que ponto tal noção de “carne” ganha estatuto fenomenológico na Filosofia Contemporânea entre autores como Merleau-Ponty, Franz Rosenzweig, Emmanuel Lévinas, dentre outros.
Por se tratar de um tema abordado a partir da fenomenologia, é mister recordar que a Filosofia da Encarnação depara-se com a questão da finitude humana, que é o tema da morte, ou melhor, o sentido do morrer que põe em movimento o próprio viver – para citar Maurice Blanchot – em sua obra O espaço literário.
Neste sentido, ressaltamos que o livro Por Uma Filosofia Da Encarnação nos desperta para temas que vão desde o nascer – “do portar antes” – ao sentido do morrer, a saber, o “tramontar do Ocidente”. Trata-se também de uma obra que nos instiga na releitura hodierna de textos que retomam a Filosofia Clássica, sob o viés da fenomenologia.