O Sistema Da Incompletude: A Doutrina De Fichte De 1794 A 1804

Um duplo preconceito paira em torno da figura de Johann Gottlieb Fichte: que ele seja um idealista subjetivo cujo projeto constitui uma tentativa de explicar toda a existência a partir do mero sujeito

, e que ele seja apenas um elo no percurso filosófico que vai de Kant a Hegel. O primeiro preconceito afasta os estudiosos do pensamento fichteano, tido por uma quimera insustentável; o segundo faz dele um filósofo de importância secundária, a ser estudado para melhor entender problemas kantianos ou para reconstruir historicamente um percurso que só se realizará plenamente com Hegel. Nos últimos anos, contudo, surgiu um renovado interesse pelo pensamento fichteano enquanto tal, propulsionado sobretudo pelo excelente trabalho editorial da Academia Bávara de Ciências a qual iniciou em 1962 a publicação de uma nova edição das obras completas do filósofo de Rammenau incluindo suas notas de curso, suas correspondências e inúmeros escritos inéditos. A renovação da Forschung fichteana se manifesta desde então no surgimento de sociedades internacionais dedicadas ao pensamento do autor, como a Intertionale Johann Gottlieb Fichte-Gesellschaft em 1987, e de veículos de publicação regular destinados a especialistas, como a Fichte Studien em 1990, que motivam a pesquisa e a circulação de ideias de alto nível sobre o assunto.
O Livro de Diogo Ferrer, O Sistema da Incompletude: A Doutrina da Ciência de 1794 a 1804 publicado pela Imprensa da Universidade de Coimbra em 2014 se insere nesse ressurgimento de interesse pelo pensamento fichteano e põe à disposição do público lusófono uma detalhada exploração das potencialidades conceituais internas desse peculiar sistema filosófico. Como se sabe, o filósofo de Rammenau deu o nome de Wissenschftslehre – em português, Doutrina da Ciência – ao projeto ao qual ele dedicou todos os seus anos de produtividade intelectual desde 1794 até a sua morte precoce em 1814; nesse período, estima-se que Fichte tenha escrito 15 versões de sua Wissenschaftslehre. O livro de Diogo Ferrer trata de reconstruir de um ponto de vista diacrônico quatro das cinco primeiras exposições públicas do sistema fichteano, a saber: Os Fundamentos de toda a Doutrina da Ciência, A Doutrina da Ciência Nova Methodo, a primeira exposição da Doutrina da Ciência de 1801 (a segunda exposição é rapidamente abordada) e a primeira exposição da Doutrina da Ciência de 1804.
A tese central do autor é a de que é possível apreender a continuidade diacrônica do pensamento fichteano a partir do conceito de “sistema da incompletude”, um conceito que sintetiza a necessária reflexividade do saber, contida na noção de sistema, com a contingência da experiência, que evidencia a incompletude de toda construção conceitual.

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O Sistema Da Incompletude: A Doutrina De Fichte De 1794 A 1804

Um duplo preconceito paira em torno da figura de Johann Gottlieb Fichte: que ele seja um idealista subjetivo cujo projeto constitui uma tentativa de explicar toda a existência a partir do mero sujeito, e que ele seja apenas um elo no percurso filosófico que vai de Kant a Hegel. O primeiro preconceito afasta os estudiosos do pensamento fichteano, tido por uma quimera insustentável; o segundo faz dele um filósofo de importância secundária, a ser estudado para melhor entender problemas kantianos ou para reconstruir historicamente um percurso que só se realizará plenamente com Hegel. Nos últimos anos, contudo, surgiu um renovado interesse pelo pensamento fichteano enquanto tal, propulsionado sobretudo pelo excelente trabalho editorial da Academia Bávara de Ciências a qual iniciou em 1962 a publicação de uma nova edição das obras completas do filósofo de Rammenau incluindo suas notas de curso, suas correspondências e inúmeros escritos inéditos. A renovação da Forschung fichteana se manifesta desde então no surgimento de sociedades internacionais dedicadas ao pensamento do autor, como a Intertionale Johann Gottlieb Fichte-Gesellschaft em 1987, e de veículos de publicação regular destinados a especialistas, como a Fichte Studien em 1990, que motivam a pesquisa e a circulação de ideias de alto nível sobre o assunto.
O Livro de Diogo Ferrer, O Sistema da Incompletude: A Doutrina da Ciência de 1794 a 1804 publicado pela Imprensa da Universidade de Coimbra em 2014 se insere nesse ressurgimento de interesse pelo pensamento fichteano e põe à disposição do público lusófono uma detalhada exploração das potencialidades conceituais internas desse peculiar sistema filosófico. Como se sabe, o filósofo de Rammenau deu o nome de Wissenschftslehre – em português, Doutrina da Ciência – ao projeto ao qual ele dedicou todos os seus anos de produtividade intelectual desde 1794 até a sua morte precoce em 1814; nesse período, estima-se que Fichte tenha escrito 15 versões de sua Wissenschaftslehre. O livro de Diogo Ferrer trata de reconstruir de um ponto de vista diacrônico quatro das cinco primeiras exposições públicas do sistema fichteano, a saber: Os Fundamentos de toda a Doutrina da Ciência, A Doutrina da Ciência Nova Methodo, a primeira exposição da Doutrina da Ciência de 1801 (a segunda exposição é rapidamente abordada) e a primeira exposição da Doutrina da Ciência de 1804.
A tese central do autor é a de que é possível apreender a continuidade diacrônica do pensamento fichteano a partir do conceito de “sistema da incompletude”, um conceito que sintetiza a necessária reflexividade do saber, contida na noção de sistema, com a contingência da experiência, que evidencia a incompletude de toda construção conceitual.

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