Na última carta pública que escreveu antes de sua morte em 1826, Thomas Jefferson apresentou uma visão ampla da Declaração de Independência, documento que ele havia redigido meio século antes.
Ao recusar o convite para comparecer à comemoração do quinquagésimo aniversário da independência americana em Washington, o terceiro presidente dos Estados Unidos chamou a Declaração de “um instrumento prenhe do nosso próprio destino e do destino do mundo”.
Lamentou que a doença o impedisse de se reunir “ao restante daquele grupo ilustre que se juntou a nós naquele dia, na ousada e incerta eleição que estávamos prestes a realizar por nosso país, entre a submissão e a espada”. Ele teria então
desfrutado com eles o reconfortante fato de que nossos compatriotas, depois de meio século de experiência e prosperidade, continuam a aprovar a escolha que fizemos. Que isso seja, para o mundo — o que acredito que será (para algumas partes em breve, para outras, mais tarde, e finalmente para todas) —, o sinal para que homens inspiradores rompam os grilhões sob os quais a ignorância e a superstição monacais os têm persuadido a se restringir, e assumam as bênçãos e a segurança do autogoverno.
Jefferson morreu em 4 de julho de 1826, duas semanas depois de enviar essa carta. Ele a escrevera em tons de discurso profético, avaliando passado e futuro à beira da morte. Certamente tencionava que a carta viesse a público, e assim logo ocorreu, em um jornal de Washington no dia de sua morte. Contudo, essa não foi a última das cartas de Jefferson.
Um dia depois de enviá-la, em 24 de junho de 1826, ele escreveu mais duas: uma a seu agente comercial em Richmond, Virgínia, e a outra a um negociante em Baltimore, tratando de um carregamento de vinho francês que acabara de chegar de Marselha, cujas tarifas alfandegárias precisavam ser pagas.
Os últimos pensamentos públicos de Jefferson podem ter discutido a herança da Revolução Americana, mas suas últimas instruções pessoais referiram-se ao estoque de sua adega. Em ambos os casos manifestou confiança no futuro.
Em ambos também reconheceu que o país recém-nascido vinculava-se a um mundo mais amplo, seja como exportador de ideias revolucionárias, seja como um importador de artigos de luxo. Como Jefferson bem sabia, qualquer país independente tinha de ser também interdependente.