Sorriso De Persona apresenta uma conjunto de artigos que discutem questões próprias do teatro mágico. Nele, é possível encontrar análises sobre textos de autores consagrados do teatro, em discussões que versam sobre vários temas nos estudos de comédia.
Aristóteles, no seu tratado sobre a Poética, que a nós chegou incompleto, tentou apresentar o primeiro esqueleto, a primeira análise dos elementos da comédia como gênero literário.
Das anotações de Aristóteles, como é sabido, ficou a esperança de se encontrar o perdido texto que completaria seu tratado, o segundo livro da Poética, dedicado a uma análise mais profunda do gênero cômico, livro esse que suscitou um conjunto variado de lendas envolvendo seu paradeiro, seu conteúdo.
O que nos ficou foi que, sempre que voltamos à Poética, estamos em contato com a ausência do famoso e desconhecido livro, o qual nos oferta, com isso, uma preciosa imagem.
Tornou-se, desde Aristóteles, uma tarefa difícil, por parte da crítica e da teoria, delimitar as características da comédia ao longo do tempo de uma forma acabada e final, pois, diferentemente dos demais gêneros aristotélicos (a tragédia, o ditirambo e a epopeia), a comédia não perdeu sua carga de mutabilidade e de adaptação ao contexto histórico em que veio a figurar, pondo os estudiosos sempre um passo atrás das suas variações, colocando-os em constante busca por preencher esse espaço, completar o tratado aristotélico.
Estudar a comédia e suas muitas manifestações sempre será uma atividade, em parte, de busca por completude. Estamos sempre em contato com os buracos de uma máscara cênica constantemente a serem preenchidos pelos olhos dos que com ela têm contato.
As muitas ausências, sempre benéficas aos estudiosos, circundam a história da comédia, tendo como ponto central as inúmeras maneiras de criar o riso, de provocá-lo ao longo do tempo, na necessidade que tem a humanidade de rir de si mesma. O olhar do crítico, do teórico, é sempre aquele que preenche o espaço vazio da máscara cômica.
Vestida a máscara, buscará – mirando o público, o instante da atuação cênica cômica – entender, enlaçar, pensar o que, em nós, provoca o riso, esse sorriso de persona.
O presente livro é resultado dessa tentativa de pensarmos as muitas formas de riso e de recepção da arte, buscando entender, sempre um passo atrás do texto literário, a quais buracos da máscara o texto irá nos levar, que vazios vamos preencher, sabendo que a mirada será a de um crítico, um pensador, munido de outras máscaras para driblar as artimanhas, buscando entender os elementos que compõem as formas de produção do riso em suas variadas manifestações.