
O trabalho de memória publicado neste livro é resultado de encontros narrativos que ocorreram durante um ano, no qual foi possível pensar a respeito de memórias asiladas. Memórias de pessoas deslocadas do centro social produtivo, apartadas da memória viva em movimento. Contudo, é nesse lugar “de lembrar” ao qual se referem Halbwachs e Bosi, que o idoso do Asylo aguarda alguém que vá lhe visitar para poder compartilhar suas histórias e revivê-las na imaginação.
A fotografia, nesse processo, é também um convite para pensar a terceira idade, sobretudo no que diz respeito ao status do idoso na sociedade contemporânea e a sua potencial inclinação como narrador de memórias do passado. Finalmente, destaca-se que a partir desta pesquisa foi possível identificar a categoria “patrimônio afetivo” como elemento fundamental para compreender a relação memorial que os idosos do Asylo estabelecem com seu passado, seus objetos de memória e suas fotografias no presente.
Ao considerar a memória de idosos, pode-se afirmar que neste trabalho eles expressam suas memórias de modo semelhante ao que foi descrito em tantos outros estudos que abordam o tema. O que se altera, neste caso, é o contexto no qual estão inseridos e o método utilizado para chegar aos resultados. Ao perceber que a vida em ambiente asilar interfere no seu modo de viver em sociedade, nota-se que não apenas a sua narrativa se particulariza, mas também o modo próprio de se apresentar nesse ambiente, espacialmente reduzido.
Salienta-se que a redução que ocorre em nível espacial não se reflete no universo simbólico dos asilados; ao contrário, salienta a reminiscência de memórias de si próprios em outros tempos e espaços.
É importante destacar que a fotografia também interferiu de modo positivo sobre a autoestima desses narradores, que, ao se sentirem valorizados, passaram a narrar com maior facilidade, e até mesmo requisitaram registros em diferentes momentos da pesquisa.
