Desde sua fundação em 2014, o grupo de pesquisa Estudos do Gótico vem agregando pesquisadores do país que têm se debruçado sobre os vários eixos investigativos em torno do Gótico literário.
Desde então, foram realizados dois seminários do grupo, na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), em Uberaba (MG), nos anos de 2014 e 2017, além de simpósios nos congressos da ABRALIC e do SEPEL (Seminário Permanente de Estudos Literários, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro), a publicação de livros (impresso e em formato e-book) e a organização de dossiês em revistas acadêmico-científicas.
Como se sabe, o Gótico literário foi inaugurado em 1764 com a publicação na Inglaterra de The castle of Otranto (O castelo de Otranto), de Horace Walpole.
A rigor, segundo a historiografia literária, o Gótico enquanto “estilo de época” se estende até 1820, com a publicação de Melmoth, the wanderer (Melmoth, o andarilho), de Charles Maturin.
Para alguns pesquisadores o Gótico constitui um gênero ficcional, para outros o Gótico seria antes um modo narrativo. De qualquer forma, há um evidente transbordamento do Gótico para além das Ilhas Britânicas de onde surgiu e para além da própria literatura em si.
Não só os romances góticos ingleses do período histórico apresentavam enredos que se passavam em cenários majoritariamente do mundo mediterrâneo, como a Sicília de Walpole, a Itália e o sul da França de Ann Radcliffe e a Espanha de Matthew Lewis, mas também, além dos autores de língua alemã, pertencentes à forte tradição da Schauerliteratur (que teria influenciado Matthew Lewis a escrever seu romance The monk (O monge), publicado em 1796), e dos escritores franceses ligados à littérature frénétique, o Gótico se espraiou para além dos confins do continente europeu, em tendências como o Gótico norte-americano (American Gothic), o Gótico do sul estadunidense (Southern Gothic), o Gótico Asiático, o Gótico Latino-Americano, o Gótico Brasileiro, sem contar a extensa ramificação do gênero em outras mídias, como o cinema, a televisão, e os quadrinhos, por exemplo.
Os trabalhos reunidos aqui no III Seminário de Estudos do Gótico refletem bem essa diversidade. A propósito, desde 1764, o Gótico já comparece enquanto alegoria de uma diversidade – transgressora – frente aos postulados do Iluminismo e do senso comum burguês.
Em tempos como o que passamos neste 2019, no cenário sombrio – porém nada poético ou entertaining – da contemporaneidade brasileira, estudar o Gótico equivale a não só contemplar a diversidade, mas também a de exercitar o direito à transgressão dos postulados que procuram nos impor como verdade absoluta.
Enquanto face oculta e crepuscular da própria modernidade em si e enquanto estética questionadora e problematizadora não só dos discursos científico, político, social, mas também da própria condição humana, o Gótico sempre será um fantasma incômodo para aqueles que insistem em proclamar discursos totalitários e preconceituosos.