
Vi, recentemente, na mostra de uma de nossas livrarias, um volume originário de Ilhéus ou Itabuna, não me lembro bem, enunciando poetas da zona do cacau.
Apanhei-o, correndo a vista pela relação dos autores que ali se comprimiam, no sentido de encontrar o nome de Clarêncio Baracho, o primeiro que, de logo, me acorreu à lembrança, isto porque, diante de um livro que reunia poetas da zona sul do Estado da Bahia, meu pensamento norteou-se para esse amigo que é, profunda e arraigadamente, um poeta da Região Cacaueira.
Mas o poeta Clarêncio Baracho, malogrando a minha expectativa, ali não se encontrava, quando outros nomes que, embora possam honrar qualquer antologia, ali de agasalhavam, como se agasalham os cucos, em ninho estranho…
Foi desta forma, para mim, desconcertante a omissão. Não porque o meu velho amigo Baracho seja um trunfo da gaia ciência, merecedor, por isso, de todas as honras que tributam aos pouquíssimos poetas que manejam o seu próprio instrumento, tendo a arte como ponte firme e garantida para a posteridade.
Nada disto. Poucos, realmente, no tempo que flui, dispõem deste instrumento ou têm o privilégio de transpor essa ponte. Mas, simplesmente porque, de sã consciência, não é justo relegar ao desprezo o nome de Clarêncio Baracho quando se organiza um livro dessa natureza, isto é, um livro cujo objetivo é fixar os poetas grapiúnas.
Neste caso, francamente, ninguém, pois, mais do que ele, é tocado pelo clima dadivoso, ou tem raízes distendidas naquela Terra onde nasceu e da qual, parece, nunca se afastou. Ninguém, pois, mais do que ele, merece um lugar na história poética da Região.
Dou testemunho dos muitos anos que o conheço fiel ao seu ideal jamais renegado, perpétuo prisioneiro da poesia tradicional, mas bendizendo a prisão que o tem cativo dentro das grades de um soneto…
Nisto fiquei pensando quando me veio às mãos o original do seu livro Água Corrente a fim de passar-lhe a vista e nele escrever algumas palavras, a título de apresentação, tão mal avisado que anda o poeta, pois disto ele prescinde, já que é um nome bastante conhecido não apenas no seu meio, uma vez que, de acordo com as informações que me transmitiu, a sua poesia é comentada não somente aqui como nas repúblicas vizinhas, valendo salientar a Argentina, de onde lhe choveram aplausos, em louvor aos louvores que teceu a Eva Peron, como prova de que também não falta sensibilidade em outros pontos do continente…
Folheei com prazer os originais deste livro, datado de 1960, portanto já com 18 anos, enrolando-lhe as páginas que breve serão impressas em letra de forma.
Desta vez, então, os admiradores de Clarêncio Baracho terão estes poemas reunidos num volume que irá, por certo, agradar, pois conterá alguns versos que, pela espontaneidade e inspiração, já lhe asseguram um lugar nas letras baianas.











