As Aventuras De Sr. Pickwick

Charles Dickens - As Aventuras De Sr. Pickwick

"Dickens era um fornecedor de ficção ligeira para as massas, o continuador da antiga novela sensacionalista barata e o inventor do moderno thriller, em suma, o autor de livros que, independentemente da qualidade literária, correspondem em todos os aspectos ao conceito atual de best sellers.”

A frase de Arnold Hauser expressa o enigma representado pela obra de Dickens em relação ao sistema literário de seu tempo — um enigma que só fez crescer desde então e continua válido para o nosso presente, em que a “qualidade literária” parece irremediavelmente divorciada do sucesso de público.

Pois embora Dickens fosse considerado autor para um público iletrado — uma massa de leitores bem diferente daquela que no passado lia Richardson, Defoe e Fielding, e que agora preferia George Eliot ou Thackeray ao autor de Oliver Twist —, a fortuna crítica posterior o descreve como epicentro da prosa de língua inglesa do século XIX.

Recentemente, um ensaísta sofisticado como Harold Bloom colocou Bleak House ao lado de Middlemarch, de George Eliot, como exemplo de “romance canônico”. E o poeta T. S. Eliot formulou uma aproximação surpreendente, ao dizer que Dickens compartilha com Shakespeare essa capacidade singular de “criar personagens de carne e osso com apenas uma frase”.

E mesmo que seus proletários sejam um tanto idealizados, ele não deixa de ironizar essas idealizações. Não é esse, aliás, o tema de fundo de As Aventuras Do Sr. Pickwick?

A etnografia burlesca dos pickwickianos não revela como suas pretensões científicas de mapear Londres e seus habitantes eram risíveis — e o quanto, afinal, toda representação (literária ou não) deforma a realidade?

A grande contradição de Dickens foi ter associado sátira e distanciamento irônico a enredos que transpiram sinceridade, sentimentalismo, até mesmo ingenuidade — e talvez seja essa contradição que o defina.

O fato de ser considerado um escritor ignorante para os padrões da época e de ter se exercitado no jornalismo antes de enveredar pela ficção (Sketches by Boz, sua série de reportagens sobre Londres, seria precursor de As Aventuras Do Sr. Pickwick) explica a popularidade de Dickens, um escritor que falava na língua de seu público e que soube explorar como poucos o canal de veiculação representado pelos romances de folhetim (os fascículos de Pickwick chegaram a ultrapassar, na época, a casa dos 40 mil exemplares vendidos).

 

Links para Download

Link Quebrado?

Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.

Deixe seu comentário

Mais Lidos

Blog

As Aventuras De Sr. Pickwick

Charles Dickens – As Aventuras De Sr. Pickwick

Dickens era um fornecedor de ficção ligeira para as massas, o continuador da antiga novela sensacionalista barata e o inventor do moderno thriller, em suma, o autor de livros que, independentemente da qualidade literária, correspondem em todos os aspectos ao conceito atual de best sellers.”

A frase de Arnold Hauser expressa o enigma representado pela obra de Dickens em relação ao sistema literário de seu tempo — um enigma que só fez crescer desde então e continua válido para o nosso presente, em que a “qualidade literária” parece irremediavelmente divorciada do sucesso de público.

Pois embora Dickens fosse considerado autor para um público iletrado — uma massa de leitores bem diferente daquela que no passado lia Richardson, Defoe e Fielding, e que agora preferia George Eliot ou Thackeray ao autor de Oliver Twist —, a fortuna crítica posterior o descreve como epicentro da prosa de língua inglesa do século XIX.

Recentemente, um ensaísta sofisticado como Harold Bloom colocou Bleak House ao lado de Middlemarch, de George Eliot, como exemplo de “romance canônico”. E o poeta T. S. Eliot formulou uma aproximação surpreendente, ao dizer que Dickens compartilha com Shakespeare essa capacidade singular de “criar personagens de carne e osso com apenas uma frase”.

E mesmo que seus proletários sejam um tanto idealizados, ele não deixa de ironizar essas idealizações. Não é esse, aliás, o tema de fundo de As Aventuras Do Sr. Pickwick?

A etnografia burlesca dos pickwickianos não revela como suas pretensões científicas de mapear Londres e seus habitantes eram risíveis — e o quanto, afinal, toda representação (literária ou não) deforma a realidade?

A grande contradição de Dickens foi ter associado sátira e distanciamento irônico a enredos que transpiram sinceridade, sentimentalismo, até mesmo ingenuidade — e talvez seja essa contradição que o defina.

O fato de ser considerado um escritor ignorante para os padrões da época e de ter se exercitado no jornalismo antes de enveredar pela ficção (Sketches by Boz, sua série de reportagens sobre Londres, seria precursor de As Aventuras Do Sr. Pickwick) explica a popularidade de Dickens, um escritor que falava na língua de seu público e que soube explorar como poucos o canal de veiculação representado pelos romances de folhetim (os fascículos de Pickwick chegaram a ultrapassar, na época, a casa dos 40 mil exemplares vendidos).

 

https://livrandante.com.br/contribuicao/caneca-de-tanto-ler-e-imaginar-branca/

Link Quebrado?

Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.

Deixe seu comentário

Pesquisar

Mais Lidos

Blog