
Os resíduos orgânicos, que representam cerca de 50% dos resíduos urbanos gerados no Brasil, tem a particularidade de poderem ser reciclados por meio de processos como a compostagem, em qualquer escala, desde a doméstica até a industrial.
Além dessa abrangência de escalas, a reciclagem de resíduos orgânicos não necessita de grandes exigências tecnológicas ou de equipamentos para que o processo possa ser realizado com segurança, de forma que a compostagem tem tido grande êxito em ações de educação ambiental associadas com jardinagem e agricultura urbana, como forma de empoderar pessoas na reprodução do ciclo da matéria orgânica e mudança de sua visão e relação com resíduos de modo geral.
Apesar disso, os municípios brasileiros têm tido, de maneira geral, dificuldades em explorar este potencial como política pública. A maior parte das iniciativas municipais em compostagem no Brasil restringem-se a pátios centralizados, que recebem resíduos de coleta mista (resíduos orgânicos misturados com rejeitos) ou de apenas alguns grandes geradores de resíduos orgânicos.
Os resíduos orgânicos domésticos, em geral, acabam sendo dispostos em aterros sanitários ou lixões, desperdiçando nutrientes e matéria orgânica que, no ciclo natural, tem o papel de fertilizar e manter a vida nos solos.
Há, no entanto, um acúmulo considerável de experiência e de projetos brasileiros que tem explorado com sucesso técnicas de compostagem e de formas inovadoras de gestão dos resíduos orgânicos, demonstrando formas de aproveitar o potencial de descentralização na gestão destes resíduos e gerando diversos benefícios econômicos, sociais e ambientais em comparação com o paradigma atual predominante no Brasil, que é o aterramento de resíduos orgânicos.
Neste contexto, destaca-se o trabalho do professor Paul Richard Momsen Miller, do Departamento de Engenharia Rural da Universidade Federal de Santa Catarina, que há mais de 20 anos vem pesquisando e adaptando o método de compostagem termofílica em leiras estáticas com aeração passiva à realidade brasileira (que tem sido disseminado como Método UFSC).
Como desdobramento destes trabalhos, o Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro) tem sido o principal difusor do Método UFSC em projetos de gestão de resíduos orgânicos em diferentes contextos e configurações.
Para além da adoção do Método UFSC de compostagem, os projetos citados possuem ainda em comum um modelo de gestão de resíduos baseado na segregação na fonte dos resíduos orgânicos para produção de composto de alta qualidade (evitando sua mistura com resíduos recicláveis secos ou com rejeitos) e sistemas descentralizados de compostagem, eliminando ou diminuindo significativamente os custos com transporte de resíduos.
Estes projetos têm demonstrado que formas mais qualificadas, diversificadas e participativas de gestão de resíduos podem ser exploradas pelos municípios para aumentar a reciclagem dos resíduos orgânicos e diminuir significativamente a quantidade de resíduos dispostos em aterros sanitários e lixões.
