
Brasil, 2018: Sessenta mil mortes por homicídio. A maioria absoluta desse total é de jovens, negros e que moram em periferias. O Estado, de uma maneira geral, está perdido sem conseguir reduzir essas estatísticas.
Nem o aumento de vagas nas escolas, nem o aumento de efetivo das polícias, consegue reduzir aquele número. Uma crise econômica de mais de quatro anos deixa aquele número mais difícil de reduzir.
A sociedade tem debatido com constância esse tema da violência urbana faz alguns anos. Mas tenho refletido sobre o que os anarquistas, em particular, têm debatido, conversado e pesquisado, com relação a tema tão essencial na busca por uma sociedade igualitária e libertária (e sem violência).
Na edição de agosto de 1979, quando a quantidade de assassinatos não era tão absurda quanto hoje, um jornal anarquista de Salvador, O Inimigo do Rei, já trazia artigos sobre a violência, tentando responder algumas questões na matéria “Presídios: Onde se Forma o Doutor em Marginalidade”.
Considerando o Homem como mero parafuso de uma vasta engrenagem, o capitalismo sempre necessitou (mesmo na sua era de computação e “racionalização”) de um exército de reserva de mão-de-obra para substituir os braços cansados.
Com isto, de certa forma, termina por cavar a sua própria sepultura: o exército de reserva, incapaz de promover o autocontrole demográfico proposto pelo Sistema, terminou por crescer demais, dando um excedente do excedente, qual seja a marginalização. Forma-se, assim, um mundo paralelo, com seus valores, suas “instituições” próprias: o sistema penal.
Interessante perceber como há quarenta anos havia uma necessidade dos anarquistas de diagnosticar a complexidade que era a sociedade, e hoje a gente pouco vê essas discussões sendo projetadas pelos libertários, mesmo com tanta mídia disponível.
O que se vê, nas redes sociais, por exemplo, são indivíduos libertários com discursos parecidos com aqueles de intelectuais liberais ou marxistas: Ou bem se reprime os que vivem a margem da sociedade, eliminando-os ou levando-os para as penitenciárias, ou joga-os dentro das escolas estatais para discipliná-los e torná-los respeitáveis cidadãos.
