Caio De Freitas – A Revolução Russa
A Revolução Russa — que os soviéticos denominam Revolução de Outubro — ocorreu, realmente, de acordo com o atual calendário, no dia 7 de novembro de 1917.
Representou o desfecho de um longo processo de efervescência social que, desencadeado no primeiro quartel do século XIX, escreveu, com letras de sangue, a tragédia do visceral antagonismo entre os “direitos divinos” da autocracia e as aspirações, sempre ignoradas, do povo.
Daí a razão por que essa Revolução — que deve ser considerada um dos acontecimentos mais importantes da História — foi realizada por etapas.
Cinco fases assinalaram a evolução desse acontecimento: o movimento dos dezembristas, em 1825; a abolição da servidão, em 1861, e o consequente assassínio de Alexandre II, vinte anos depois; a Revolução Constitucionalista de 1905; a Revolução Liberal Burguesa, de 1917 e, finalmente, os “dez dias que abalaram o mundo”, ou seja, a Revolução de Lênin.
O sistema feudal — como existira na Europa — nunca havia prevalecido na Rússia. O que se verificou ali foi o desenvolvimento de uma ordem social, de peculiaridades locais, condicionada quer pelas condições climáticas do país, quer pelo resíduo das tradições asiáticas incorporadas aos hábitos do povo, após dois séculos e meio de dominação tártara.
Originariamente, a grande massa de camponeses era livre. Mesmo quando a propriedade das terras passara para a Coroa, para as corporações religiosas e para os nobres, eles conservavam sua liberdade pessoal e eram considerados lavradores dos lotes que cultivavam, com seus direitos assegurados por contratos.
Dessa forma, foi gradual, e levada a efeito ao longo de sucessivos reinados, a redução da gente do campo ao estado de servidão. Na época de Pedro, o Grande, o processo se realizou em ritmo bem mais acelerado.
É que ao forçar a adstrição do servo à gleba, ele procurara atender às despesas das sucessivas guerras, em que se vira envolvido. Na realidade, durante vinte e oito anos, esteve continuamente em luta: de início, contra a Turquia; depois, contra a Suécia; e, finalmente, contra a Pérsia.
Todo o peso desse gigantesco esforço recaíra sobre uma só geração. Nessas condições, seu reinado marcou um estágio a mais na sujeição dos servos — que compunham a maior parte da população — ao poder dos latifundiários.
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