
A publicação integral do trabalho, acrescido do pós-escrito, permite ao leitor uma apreensão mais completa das premissas, conceitos, conjecturas e evidências empíricas mobilizados pelo autor. A leitura de Modernização, Mercado E Democracia: Políticas E Economia Em Sociedades Complexas ajuda a entender a crise atual que vivemos. Mesmo que se discorde da empreitada ou de pontos específicos do argumento, a interpretação teórica dos problemas políticos subjacentes ao conflito distributivo brasileiro permanece atual e provocativa.
Afinal, os desafios do desenvolvimento e da democracia persistem. No capítulo dedicado ao caso brasileiro, o autor já salientava (em 1997) que o adiamento da pauta redistributiva desde o regime militar constituía um indicador da falta de autoridade do estado, minada também pelo recurso recorrente à coerção para disciplinar os “de baixo”.
Desde a elaboração da Constituição de 1988, o poder legislativo restringiu-se a processar demandas distributivas e a compensar sua impotência estratégica com ímpeto regulatório no varejo, o que mal disfarça a dificuldade de nossa sociedade tão desigual em forjar consensos mínimos e duradouros sobre a institucionalidade (procedimentos) e sobre o conteúdo de políticas estruturantes (fins).
Por sua vez, governos de coalizão liderados pelo PSDB e pelo PT lidaram como puderam com custos políticos crescentes para equacionar demandas sociais urgentes, interesses clientelísticos (principalmente do capital financeiro), vieses tecnocráticos e pressões internacionais. Equilíbrios precários e pontuados por crises – como as de 1998-1999 e de 2015-2016, erodiram a base fiscal e a legitimidade do sistema político.
A atual crise pretoriana da Era Digital encerra, a meu ver, um risco ainda pior do que a mera reiteração histórica de nossa condição semiperiférica. Afinal, sem capacidade de superar o obstáculo da alta desigualdade, o resultante “círculo vicioso autoritário” arrisca tornar-se uma espiral descendente (graveyward spiral) a nos empurrar inferno abaixo.
Dada a flecha irreversível do tempo, a cada chance desperdiçada o Brasil se afasta mais da prosperidade econômica, integração social e relevância política global.
