Ladainha

Bruna Beber - Ladainha
Bruna Beber tenta retirar, ao extremo, o peso, a profundidade e a densidade da poesia.
A começar pelo título: tipo de canto, prece ou recitação que provém de uma dimensão religiosa, a palavra ladainha passou a ser usada para dizer aquilo que se repete incansavelmente apesar de já ter perdido o sentido.


Ainda, ao escolher não dar títulos aos poemas, mas apenas enumerá-los com a sequência dos 32 primeiros números primos, Bruna Beber foge à simples infinitude dos números naturais, aspirando a uma infinitude ainda não de todo mapeada.
O que poderia ser visto como um exercício de banalidade e humor propositalmente afirmativos é, antes de tudo, uma posição ironicamente crítica da poesia para com sua história, para com a poeta, o leitor, a tradição, o mundo, o nosso tempo e, mesmo, a vida.
Se as palavras tivessem cheiro (e quem dirá que não têm?), poderíamos farejar nelas o ar do tempo em que surgiram, tentar imaginar a vontade de dizer que fabricamos cada uma delas, entrever nelas suas próprias pegadas – por onde passaram, a que forças serviram, de que forças se libertaram, que forças podem ainda liberar.
Palavras são índices históricos: apontam seus longos dedos para os momentos em que algo aconteceu; uma quebra, uma queda, uma perda, a derrocada do existente que, porém, dialeticamente, é condição para a emergência do ainda ignoto, daquilo que pode ser vida nova ou – ninguém jamais sabe ao certo – definitiva destruição.
Às vezes, o que aconteceu não para de acontecer, e o perfume (ou fedor) das palavras, ao dar conta dessa persistência e dessa tensão, parecerá contraditório. O cheiro do novo e o cheiro do antigo se misturam, confundem o leitor.
Cheiremos, por exemplo, a palavra ladainha, de que Bruna Beber fez o título deste livro.
Se vamos a um velho dicionário – o Vocabulario Portuguez e Latino, de Raphael Bluteau, por exemplo – encontramos a seguinte definição: “Ladainha. Preces, com que se invocão por ordem os nomes de Deus, & dos Santos, ou com que se fazem breves encomios à Virgem nossa Senhora, ou a alguns mysterios em geral, ou em particular.

 

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Bruna Beber – Ladainha

Bruna Beber tenta retirar, ao extremo, o peso, a profundidade e a densidade da poesia.
A começar pelo título: tipo de canto, prece ou recitação que provém de uma dimensão religiosa, a palavra ladainha passou a ser usada para dizer aquilo que se repete incansavelmente apesar de já ter perdido o sentido.
Ainda, ao escolher não dar títulos aos poemas, mas apenas enumerá-los com a sequência dos 32 primeiros números primos, Bruna Beber foge à simples infinitude dos números naturais, aspirando a uma infinitude ainda não de todo mapeada.
O que poderia ser visto como um exercício de banalidade e humor propositalmente afirmativos é, antes de tudo, uma posição ironicamente crítica da poesia para com sua história, para com a poeta, o leitor, a tradição, o mundo, o nosso tempo e, mesmo, a vida.
Se as palavras tivessem cheiro (e quem dirá que não têm?), poderíamos farejar nelas o ar do tempo em que surgiram, tentar imaginar a vontade de dizer que fabricamos cada uma delas, entrever nelas suas próprias pegadas – por onde passaram, a que forças serviram, de que forças se libertaram, que forças podem ainda liberar.
Palavras são índices históricos: apontam seus longos dedos para os momentos em que algo aconteceu; uma quebra, uma queda, uma perda, a derrocada do existente que, porém, dialeticamente, é condição para a emergência do ainda ignoto, daquilo que pode ser vida nova ou – ninguém jamais sabe ao certo – definitiva destruição.
Às vezes, o que aconteceu não para de acontecer, e o perfume (ou fedor) das palavras, ao dar conta dessa persistência e dessa tensão, parecerá contraditório. O cheiro do novo e o cheiro do antigo se misturam, confundem o leitor.
Cheiremos, por exemplo, a palavra ladainha, de que Bruna Beber fez o título deste livro.
Se vamos a um velho dicionário – o Vocabulario Portuguez e Latino, de Raphael Bluteau, por exemplo – encontramos a seguinte definição: “Ladainha. Preces, com que se invocão por ordem os nomes de Deus, & dos Santos, ou com que se fazem breves encomios à Virgem nossa Senhora, ou a alguns mysterios em geral, ou em particular.

 

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