Este primeiro volume de Psicopatologia Lacaniana, dedicado ao tema da semiologia, nasceu de uma constatação empírica.
À exceção do livro fundador de Psicopatologia Geral de K. Jaspers, que se estrutura explicitamente a partir do paradigma fenomenológico compreensivo, a literatura clínica dedicada ao tema da Psicopatologia disponível em língua portuguesa assume uma perspectiva predominantemente descritivista na abordagem dos fenômenos mentais.
O que explica, em nosso entender, a lassidão que acomete os alunos de Psicopatologia no estudo da doutrina é justamente a ausência de um esforço deliberado de ultrapassar o plano descritivo dos fenômenos clínicos, a fim de situar logicamente o mecanismo do sintoma como resposta subjetiva construída pelo paciente.
Por isso julgamos premente propor um tratado lacaniano de psicopatologia, destinado não a acrescentar novas descrições de fenômenos mentais, mas sim a iluminar o mecanismo interno do que se encontra superficialmente descrito.
O discurso lacaniano é aqui tomado não como escolha circunstancial de uma visão particular do fenômeno clínico, mas sim enquanto efeito de uma decisão forçada: julgamos que não há como entender o mecanismo do delírio, da alucinação, das alterações de humor, nem tampouco das funções da consciência, da percepção, da inteligência e do juízo de realidade sem passar pela doutrina de Jacques Lacan. Essa decisão prescreve, portanto, a orientação deste livro.
Ao meditar sobre a necessidade dessa orientação, pensamos no projeto epistêmico desenvolvido na França pela equipe que se nomeou Bourbaki, gestada como resposta à insuficiência dos manuais destinados à transmissão da disciplina de Lógica Matemática no período em que esse grupo se constituiu.
Essa equipe desenvolveu um método de elaboração dos artigos que nos inspirou: um participante redigia um trabalho de pesquisa sobre determinado problema lógico, o qual era intensamente criticado pelos demais em reuniões destinadas a essa discussão; em seguida, o que permanecia do texto inicial era retomado por um outro participante que produzia sua versão final assinada por Bourbaki, apagando a assinatura individual.
Tentamos, dentro das limitações particulares de nosso meio, criar um livro que não fosse composto de textos individuais, mas que seguisse uma orientação precisa: mostrar a necessidade epistêmica do discurso lacaniano no campo da psicopatologia.
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