
Antônio Lopes nos apresenta seu terceiro livro. Após Solo De Trombone (ditos e feitos de Alberto Hoisel) e Buerarema falando para o mundo, chega até nós Estória De Facão E Chuva (Trinta E Cinco Crônicas E Duas Louvações).
Conheço os três e posso dizer que esses livros nos fazem rir e pensar, mas vamos nos ater ao último, aquele que nos cabe apresentar. Peguei Estória De Facão E Chuva com emoção. Sabia, de certa forma, o que me esperava.
Acredito que Antônio Lopes, com sua escrita, nos descomplica, nos tira aquela pose que pode estar querendo se instalar, nos humaniza a ponto de darmos boas risadas de nós mesmos, e risadas de deboche, o que é melhor.
Com suas estórias, a realidade da vida fica clara e uma certa sabedoria, cheia de ternura, procura abrigo em nós. E lá fui eu levada por esse homem que nasceu em Triunfo, Pernambuco, mas que é macuquense, hoje bueraremense, até a raiz do cabelo.
Acompanhei seu encontro com Baden, sua humildade diante do grande violonista. Quem conhece Lopes acompanha o relato como se o estivesse vendo. Fui apresentada a um Washington Landulfo novo para mim, desconhecido.
A idéia que fazia do velho mestre era diferente, mas gostei do seu jeito debochado, brincalhão. Dei muita risada com os relatórios dos funcionários da Carteira de Crédito Agrícola do Banco do Brasil.
Emocionei-me com sua filosofia em Tempo de Tolerância: “O homem deve aproveitar a velhice para ser bom, não para ser sábio”. E fica a pergunta, que sei que ele já respondeu: E existe maior sabedoria que a de tentar atingir uma certa bondade?
Lopes oferece a Nelson Schaun, a quem se refere com tanto respeito e carinho, um dos seus mais bonitos retratos, o de um gigante forjado na absoluta simplicidade. Fala de Nelson Barros com respeito, com reverência. E constata que a morte de seu Gilberto da Padaria “encerra um ciclo, uma geração de homens limpos e puros”. Mas nem só os homens grandes e bons o emocionam.
Assim como Jorge Amado, Lopes simpatiza com “conterrâneos” (se é de Buerarema, é seu conterrâneo) como Zito Calango, Joãozinho Calça Frouxa, tipos que nos emocionam com seus limites e sua humanidade, ou como Raimundo Galvão, redator de notícias da Difusora, Davi a enfrentar o Golias Paulo Nunes, também aqui o gigante sendo vencido pela falta de subserviência, pela tranqüilidade do pequeno Davi que hoje cantaria para o deputado seu patrão: tô nem aí, tô nem aí…
