
Lais são poemas narrativos de ampla divulgação na Idade Média, principalmente no final do século XII e início do XIII.
Teriam sido compostos por bretões — é, pelo menos, o que nos dizem os textos. Foram escritos no francês daquele período, quando a língua ainda não se unificara, comportando diversos dialetos, com diferenças consideráveis de vocabulário e grafia.
Propõem-se a narrar alguma aventura ocorrida em lugares conhecidos, tais como a Bretanha insular (a Grã-Bretanha de hoje), a Escócia, a Irlanda e a Bretanha do norte da França (Bretanha Armoricana), ultrapassando, porém, muitas vezes, as fronteiras do mundo real para entrar em terras fantásticas.
A presente tradução cobre onze lais de autoria anônima, dos quais existem excelentes edições, e ainda traduções em várias línguas.
A palavra “lai” é de origem céltica (cf. o irlandês, laid, “canto”). O lai era originalmente destinado a ser cantado ao som da harpa ou da rota, antigo instrumento de corda.
Os textos, constituídos de versos de oito sílabas rimados aos pares, são curtos em comparação com os dos romances em verso, que também seguiam esse mesmo esquema de métrica e rima.
A aventura narrada nos lais é uma combinação de três temas, em proporções variadas: amor, cavalaria, e o maravilhoso.
Via de regra, os protagonistas são nobres, às vezes de sangue real. Nos lais, assim como nos romances (romans, palavra que marca a transição do latim para os idiomas, como o francês, dele derivados), os heróis são invariavelmente descritos como belos, bravos e generosos em dar ricos presentes (a virtude da largesse), as heroínas são de uma beleza nunca vista, e tudo que eles e elas possuem é incrivelmente valioso.
Vivendo em castelos imponentes, mas bem desconfortáveis pelos padrões atuais, os homens se ocupavam da guerra, da participação em torneios e da caça.
Detalhes sobre as condições de vida podem ser achados em trabalhos como o elaborado sob a coordenação de Georges Duby. Saindo do castelo para distrair-se (esbanier), homens e mulheres se compraziam em passear pelos vergeis, mescla de pomar e jardim, ou, com risco maior, em embrenhar-se por bosques e florestas habitados por animais estranhos, fadas a banhar-se em fontes cristalinas, e uma pluralidade de seres sobrenaturais.
O amor é quase sempre o tema dominante. Desde cedo, impulsionado pela Natureza com “N” maiúsculo, cabia ao homem cortejar damas e donzelas.











