
O texto que inaugura a Teoria Das Representações Sociais, La Psychanalyse, Son Image Et Son Public, de Serge Moscovici, alcançou no ano de 2011 o seu jubileu de ouro. Isto, lamentavelmente, ainda sem uma edição completa em língua portuguesa, pois apenas a primeira parte da segunda edição francesa de 1976 foi publicada no Brasil, em 1978, pela Zahar Editores, com o título de Representações Sociais da Psicanálise.
O livro de Moscovici representa para a psicologia social um marco significativo, que manteve durante as últimas cinco décadas uma atualidade inconteste, própria dos clássicos nas ciências humanas e sociais.
Karl Marx, com uma honestidade intelectual ímpar, afirmava que não poderia ter desenvolvido nenhuma parte de sua teoria sem que antes Hegel houvesse pensado a dialética.
Da mesma maneira, Moscovici promoveu uma criativa releitura da instigante obra de Émile Durkheim sobre o conceito de representações coletivas.
O século XIX “descobriu” que, não somente o indivíduo, mas as sociedades pensam e constroem coletivamente as realidades que os seus membros conhecem.
Moscovici, que participou da resistência ao nazi-fascismo na Europa, da profunda crítica ao antissemitismo e aos autoritarismos, da explosão francesa e mundial de 1968, não se fundamenta nos ícones da literatura crítica de esquerda e vai, por profunda inquietação intelectual, dialogar com Durkheim, desprezado por tal literatura, que o considerava funcionalista e reacionário.
Isto qualifica Moscovici como um pensador aberto, não submetido às determinações proibitivas das ideologias, que muitas vezes contaminam as ciências humanas e sociais.
A releitura de Durkheim permitiu que a consideração da vida cotidiana e suas múltiplas complexidades estabelecesse um novo paradigma para a psicologia social e as ciências humanas e sociais como um todo. O cotidiano apreendido por Moscovici é dinâmico e se move intensamente entre as duas categorias fundamentais de tempo e espaço.
