Quando falamos “nunca mais” estamos nos comprometendo a tornar a memória o que toda memória deve ser: útil. Estamos imbuídos a, sim, manusear a memória do Holocausto e utilizá-la como agente transformador, sem vulgarizá-la - e esse é um dos pressupostos do universalismo da Shoá ligado à educação sobre os Direitos Humanos.

E nada melhor do que o legado de Anne Frank e o estudo dos seus escritos para renovarmos nosso pacto coletivo de que vamos identificar os sinais e lutar contra toda e qualquer forma de ódio, intolerância e discriminação, contra qualquer grupo e em qualquer parte do mundo.

Esta obra, Aprendendo Com Anne Frank: Histórias Que Ensinam Valores, concretiza todos esses esforços educativos de maneira lúcida e coerente. A partir da desconstrução de práticas pedagógicas, por meio de um responsável olhar científico e acadêmico, este conjunto de textos vai muito além da apresentação de simples possibilidades educativas para o uso de “O Diário de Anne Frank” em sala de aula, tão exploradas em outras iniciativas.

Os textos, a começar pela brilhante reflexão da historiadora Júlia Amaral Amato Moreira – que também faz alusão à “janela” de Bauman – tanto dissecam diversas práticas pedagógicas quanto demonstram a riqueza conceitual das propostas e narrativas, todas elas pautadas pela interdisciplinaridade, o eixo integrador que facilita a apreensão do mesmo objeto por perspectivas diferentes.

Temas expressivos como a indiferença social, o protagonismo juvenil, os valores democráticos, a resistência, o ativismo e a consciência coletiva fazem adoravelmente parte de todos os trabalhos apresentados, demonstrando a relevância contemporânea e a necessidade intrínseca de conectar os legados e lições do Holocausto, presentes em “O Diário de Anne Frank”, com o nosso dia-a-dia.