“Queremos o Brasil de volta”, reclamava Aloysio Biondi no ano 2000. Quisemos em vão. Continuamos querendo. Em vão.
Ao reler os artigos de Biondi sobre o que nos fora tomado, e como e para quem se faziam (e fazem) os desvios, ocorreu-me uma feliz constatação histórica. Nestes tempos em que tanto mais se fala em jornalismo investigativo quanto menos a imprensa se interessa por jornalismo, é inquestionavelmente certo que Aloysio Biondi foi um dos pioneiros do jornalismo investigativo no Brasil. Com farta antecedência.
Ainda mais importante: fez jornalismo investigativo no jornalismo de economia. Caso único entre nós. Começou-o, como trabalho sistemático, tão logo a ditadura deixou claras as bases e os argumentos do que seria por duas décadas, com as pequenas sinuosidades permitidas pelos limites ideológicos, a política econômica do autoritarismo.
Desde o início, Biondi confrontou, de uma parte, a realidade retratada por suas pesquisas minuciosas, e, de outra, os pretensos fundamentos econômicos e sociológicos invocados pela política da ditadura. Submeteu cada argumento à análise objetiva do seu jornalismo desapegado de vínculos partidários, sempre.
Quem não viveu aqueles anos não encontra, na escassa historiografia política e muito menos na inexistente historiografia do jornalismo brasileiro, nem sequer os elementos mínimos para fazer ideia do que foi o trabalho jornalístico de Biondi. Fosse como determinação e competência pessoais, fosse pelo efeito no âmbito mesmo da ditadura e no segmento da população com possibilidade de informar-se. O trabalho de Aloysio Biondi tornou-se uma sucessão de problemas para ministros da área econômica.
A queda da ditadura não trouxe mudança essencial na política econômica. Os modos de aplicá-la mudaram, mas continuaram na mesma a concentração crescente da renda, a submissão ao FMI e seu elitismo econômico-financeiro, os desatinos na agricultura, a inexistência de política industrial, e por aí afora. Isto, na primeira fase do pós-ditadura, com seus planos desastrosos contra a inflação.
A segunda fase é a do ataque do neoliberalismo, caracterizada, sobretudo, pelas privatizações do aparelho econômico-estratégico do Estado e de vários serviços públicos. Com o amparo político de uma associação de interesses inconfessáveis, sob o falso rótulo de “governo de coalizão” encabeçado pelo conluio PSDB-PFL.
O Brasil Privatizado
- Ciências Sociais, Economia, História
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