O presente livro, Mulheres Expostas: Revenge Porn, Gênero E O Marco Civil Da Internet, resultado do trabalho de conclusão do curso de Direito da UFPR, escrito por Alice de Perdigão Lana, por diferentes razões me recolocou no encontro com essas mulheres/personagens. Primeiro pelo seu plano de intenções, cujo olhar pretende pensar a pornografia de revanche (revenge porn), tanto nos termos jurídicos do Marco Civil da Internet, quanto no debate da cibercultura (realidade virtual) e da teoria de gênero, por meio de uma perspectiva que não é de recusa direta, mas um verdadeiro procedimento de interrogação e ressignificação.
Procedimento esse que a um só tempo questiona a maquinaria que define e contorna o feminino, bem como a utiliza na fragilidade de si mesma. Como Penélope e Cherazade, ocupa um registro impróprio para convertê-lo em próprio. Segundo pelo seu plano de realização, que interage com os pontos comuns do tempo e da técnica.
Em Mulheres Expostas, o tempo aparece de duas formas. Na sua dimensão do presente, a partir dos relatos de casos de revenge porn, das situações de humilhação feminina pela exposição não consentida de imagens íntimas. Aparece também como tempo do agora atravessado pelas condições da técnica e tornado dela inseparável.
O tempo trabalhado nessas duas dimensões é posto sob análise, perguntado sobre suas ocorrências (e quais responsabilizações jurídicas seriam possíveis), aberto na sua tessitura de demiurgo técnico sobre a imagem do feminino e seu controle. Esse fazer invade o sentido e a ação ordinária do tempo/técnica, toma-os de assalto fazendo ver o natural (aparentemente inelutável) na sua condição de artifício/artíficie. É um trabalho analítico e crítico.
Na estrutura de Mulheres Expostas, temos inicialmente uma exposição sobre o Marco Civil da Internet e seu alcance diante da situação específica do revenge porn. Trata-se de percurso que não se esgota em descrição normativa, para além disso, expõe as formas de tratamento ao tema e as diferentes possibilidades responsivas ofertadas pelo MCI. É realizada uma reflexão sobre como as práticas de exposição da intimidade e da sexualidade podem gerar responsabilidade pela veiculação de vídeos e imagens.