
Crítica Da Razão Tradutora tem uma dupla origem, um Anlaß e uma Ursache, como se diria em alemão. O Anlaß, a origem imediata e ocasional, foi um evento organizado pelo Centro de Investigações Kantianas da UFSC em maio de 2009, evento que reuniu pesquisadores cuja relação com Kant não é simplesmente a de interpretes e comentadores, mas também de tradutores.
A Ursache ou causa propriamente dita, que levou em primeiro lugar à organização do próprio evento, pode ser identificada num incômodo compartilhado por todos os que se cimentaram com a tradução de textos filosóficos em geral e de textos kantianos em particular. Tal incômodo nasce da dificuldade de transpor para outro idioma (no nosso caso: o português, o castelhano e o italiano, então três idiomas neo-latinos) toda a complexidade e as nuances do alemão usado por Kant.
Ora, o trabalho do tradutor é fundamentalmente um trabalho solitário, feito de longas horas passadas vasculhando dicionários bi- e monolíngues e consultando outras traduções na busca de uma iluminação, de uma ajuda, de uma inspiração. Destarte, o tradutor é quase que obrigado não somente a resolver sozinho seus problemas linguuísticos, como também a operar de forma monológica, por assim dizer.
Achamos que fosse o momento de enfrentar tais problemas de forma dialógica, oferecendo um foro de discussão no qual os tradutores pudessem debater com seus colegas, trocando reflexões e relatando suas experiências (inclusive suas inevitáveis frustrações).
O resultado deste debate está condensado nas contribuições deste volume, que representa a tentativa de desmentir o conhecido ditado italiano “traduttore: traditore”. Estamos convictos de que seja possível traduzir um texto filosófico, inclusive um texto complexo e às vezes polissêmico como o kantiano, sem por isso trair o espírito e o conteúdo do original. Os textos contidos em Crítica Da Razão Tradutora pretendem fundamentar tal convicção.











