Saúde E Espaço: Estudos Metodológicos E Técnicas De Análise

A relação entre o espaço e a saúde pública é muito antiga, remontando ao próprio nascimento da disciplina. No campo das técnicas de intervenção, as primeiras tentativas de prevenir a disseminação de agravos à saúde se deram através de polícia médica e de controle sobre hospitais e cemitérios.

Como nos mostrou Michel Foucault, a história da prevenção se associa intimamente com a história da normatização dos comportamentos e do controle sobre os corpos, tendo a vigilância e o manejo dos espaços urbano e regional como principal instrumento. Da mesma forma, a construção da saúde pública como saber se apoiou fortemente em categorias espacializadas. Análises como a de John Snow sobre a epidemia do cólera em Londres em 1853 tinham o espaço como principal variável, utilizando informações georreferenciadas como ponto de partida de suas deduções, que fundaram de forma intuitiva o método epidemiológico.
Apesar desta proximidade histórica ter estado presente até as últimas décadas do século XIX, a consolidação dos saberes e o estabelecimento da divisão de trabalho tradicional entre as profissões, ao longo do atual século, acabou por afastar as análises da saúde pública dos estudos e das categorias espaciais. A partir de então, e até recentemente, a disciplina centrou sua atenção em outras variáveis explicativas, aprofundando inúmeros fenômenos e nexos causais do processo saúde-enfermidade de natureza não-espacial. Dentre estes, merecem destaque as categorias e processos de ordem temporal como coortes, padrões temporais, sazonalidade, tendências seculares etc.
Nas duas últimas décadas, no entanto, a saúde pública tem se reaproximado das categorias espaciais de forma a incorporar em seu arcabouço teórico e analítico novas variáveis, categorias, métodos e técnicas. O diálogo com algumas disciplinas que tratam centralmente do espaço, especialmente a geografia, tem aumentado bastante, embora a construção de uma ponte analítica ainda dependa de intenso trabalho empírico e teórico. Este esforço permitirá a espacialização no nível conceitual de certas categorias da saúde pública, que apesar de apresentarem dimensões visivelmente espaciais, foram construídas ao longo do tempo de uma forma a-espacial, como é o caso das categorias endemia e epidemia. Acreditamos que apenas a realização de um diálogo consistente e teoricamente bem informado com áreas como a geografia, a cartografia, a sociologia, o urbanismo e a antropologia, entre outras, permitirá a realização de análises espaciais ricas e profícuas pela saúde pública.

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A relação entre o espaço e a saúde pública é muito antiga, remontando ao próprio nascimento da disciplina. No campo das técnicas de intervenção, as primeiras tentativas de prevenir a disseminação de agravos à saúde se deram através de polícia médica e de controle sobre hospitais e cemitérios. Como nos mostrou Michel Foucault, a história da prevenção se associa intimamente com a história da normatização dos comportamentos e do controle sobre os corpos, tendo a vigilância e o manejo dos espaços urbano e regional como principal instrumento. Da mesma forma, a construção da saúde pública como saber se apoiou fortemente em categorias espacializadas. Análises como a de John Snow sobre a epidemia do cólera em Londres em 1853 tinham o espaço como principal variável, utilizando informações georreferenciadas como ponto de partida de suas deduções, que fundaram de forma intuitiva o método epidemiológico.
Apesar desta proximidade histórica ter estado presente até as últimas décadas do século XIX, a consolidação dos saberes e o estabelecimento da divisão de trabalho tradicional entre as profissões, ao longo do atual século, acabou por afastar as análises da saúde pública dos estudos e das categorias espaciais. A partir de então, e até recentemente, a disciplina centrou sua atenção em outras variáveis explicativas, aprofundando inúmeros fenômenos e nexos causais do processo saúde-enfermidade de natureza não-espacial. Dentre estes, merecem destaque as categorias e processos de ordem temporal como coortes, padrões temporais, sazonalidade, tendências seculares etc.
Nas duas últimas décadas, no entanto, a saúde pública tem se reaproximado das categorias espaciais de forma a incorporar em seu arcabouço teórico e analítico novas variáveis, categorias, métodos e técnicas. O diálogo com algumas disciplinas que tratam centralmente do espaço, especialmente a geografia, tem aumentado bastante, embora a construção de uma ponte analítica ainda dependa de intenso trabalho empírico e teórico. Este esforço permitirá a espacialização no nível conceitual de certas categorias da saúde pública, que apesar de apresentarem dimensões visivelmente espaciais, foram construídas ao longo do tempo de uma forma a-espacial, como é o caso das categorias endemia e epidemia. Acreditamos que apenas a realização de um diálogo consistente e teoricamente bem informado com áreas como a geografia, a cartografia, a sociologia, o urbanismo e a antropologia, entre outras, permitirá a realização de análises espaciais ricas e profícuas pela saúde pública.

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