Poucas atividades estão tão associadas à busca da felicidade quanto o desejo de viajar para lugares distantes. Embora não faltem publicações que recomendam variados destinos, é raro encontrar na literatura uma reflexão sobre as motivações que levam o viajante a abandonar o conforto do lar e a enfrentar o desconhecido.
O escritor Alain de Botton preenche essa lacuna em A arte de viajar, na boa companhia de nomes como Flaubert, Edward Hopper e Van Gogh. Em seu passeio pelo universo das viagens, ele se desloca por Barbados, Amsterdã, Madri e o deserto do Sinai, examinando o sublime e o comezinho, descobrindo o lado exótico dos aeroportos estrangeiros e o discreto charme dos postos de gasolina de beira de estrada. E assim Alain fornece a bagagem imprescindível para o pensamento e dá sua contribuição para que as jornadas sejam, acima de tudo, mais felizes.
Se nossas vidas são dominadas pela busca da felicidade, talvez poucas atividades revelem tanto a respeito da dinâmica desse anseio — com toda a sua empolgação e seus paradoxos — quanto o ato de viajar. Ainda que de maneira desarticulada, ele expressa um entendimento de como a vida poderia ser fora das limitações do trabalho e da luta pela sobrevivência. Mas raramente se considera que as viagens apresentem problemas filosóficos — ou seja, questões convidando à reflexão além do nível prático. Somos inundados por recomendações sobre os lugares para onde viajar, mas pouco ouvimos sobre como e por que deveríamos ir — embora a arte de viajar pareça evocar naturalmente uma série de questionamentos nem tão simples ou triviais, cuja análise poderia contribuir, de forma modesta, para uma compreensão daquilo que os filósofos gregos chamavam lindamente de eudaimonia, ou desabrochar humano.
Uma questão gira em torno da relação entre a expectativa da viagem e sua realidade.Chegou às minhas mãos um exemplar do romance Às avessas, de J.-K. Huysmans, publicado em 1884, cujo herói decadente e misantropo, o aristocrático Duque des Esseintes, antevia uma viagem a Londres, oferecendo, ao longo do processo, uma análise incrivelmente pessimista da diferença entre aquilo que imaginamos sobre um lugar e o que pode acontecer quando a ele chegamos.