O ano de 1899 representou uma linha divisória na questão de limites entre o Brasil e a França, pois a entrega das Memórias de ambos os países ao árbitro suíço sinalizou o início da etapa definitiva para se chegar à solução final de uma questão cuja duração se aproximava de três séculos. Mais do que a assinatura do tratado de 10 de abril de 1897, a data de 5 de abril de 1899 marcou o ponto sem retorno da disputa, pois mesmo o tratado corria o perigo de não passar pela Câmara de Deputados ou pelo Senado, no Brasil, além de ser vulnerável a eventuais retrocessos, caso houvesse novos incidentes graves, como o de maio de 1895.
Com a entrega das Memórias, dificilmente poderia haver recuo no processo de decisão da questão.
Se ainda havia alguma dúvida de que lhe seria confiada a tarefa a Rio-Branco de acompanhar a questão em Berna, essa havia sido dissipada com o despacho-telegráfico de 7 de dezembro de 1898, com o qual teve confirmação de sua nomeação (já aprovada pelo Senado) como “ministro em Missão Especial na Suíça”. Seu ritmo de trabalho que já era intenso, acelerou ainda mais com a confirmação de que seria o advogado brasileiro a conduzir a sua Memória junto ao Conselho Federal em Berna. Mas ainda havia muito a fazer, pois seu processo de redação era contínuo e, até certo ponto, concomitante com a supervisão da impressão e encadernação, junto à tipografia Lahure, em Paris.
Rio-Branco trabalhava com rara intensidade e, a exemplo do que ocorrera em Nova York, onde se encerrou em 1893 e princípios de 1894 para finalizar a redação e impressão de sua Memória na questão com a Argentina, passou em Paris longo período, grande parte do qual encerrado na Vila Molitor, em Auteuil, no preparo de Memória bem mais complexa do que a anterior.
Como consequência do tempo consumido com seu trabalho, de 25 de janeiro até 1° de abril, os registros no seu Caderno de Notas são escassos, muitas vezes limitados a um simples risco ao lado da data. Março foi especialmente desprovido de registros, pois embora não haja comprovação por escrito, provavelmente só se afastava de sua mesa de trabalho para ir à tipografia Lahure, onde controlava, com rigor, a composição dos textos.