Será que a escola pela qual Célestin Freinet dedicou integralmente sua vida tornou-se realidade no contexto atual? Se a resposta for afirmativa, outra pergunta se segue à primeira: Onde se pode encontrá-la?
As respostas a estas duas provocações são aparentemente contraditórias: para a primeira, infelizmente, podemos dizer que não temos uma escola concreta, pois as condições históricas, materiais e simbólicas da França do século XXI ou de qualquer outra parte do mundo não se assemelham às raízes políticas e sociais que forjaram a proposta pedagógica de Freinet vivida no chão das escolas do seu tempo e de seus camaradas.
Entretanto, os princípios, as técnicas, as ferramentas, a utopia de uma escola pública e popular alimentam experiências pedagógicas ao redor do mundo, partilhadas pelo Instituto Cooperativo da Escola Moderna – Pedagogia Freinet.
Assim, a resposta à segunda provocação é afirmativa. São estas escolas, estas salas de aulas e os professores ‘freinetianos’, inclusive os daqui do Brasil, que nos animam a convocar os profissionais da educação e os interessados em uma sociedade mais humana a se instrumentalizarem teórico-metodologicamente para desenvolverem práticas educativas e sociais condizentes com o projeto de uma pedagogia comprometida com a escola do povo e com uma sociedade mais igualitária e democrática.
Neste livro, apresentamos o encontro de Freinet com a escola russa pós-revolucionária, o diálogo do ensaio de psicologia sensível com a teoria histórico-cultural, algumas questões epistemológicas em torno do método natural, da leitura e da escrita.
Os recortes temáticos abordados pelos autores está também em comunhão com os ideais de amplificação do nome de Freinet nos espaços de formação de professores, nas universidades, no chão da escola. Recolocar e alargar o nome de Freinet no cenário da educação brasileira é imprescindível nesse momento de ataque aos direitos fundamentais do homem.
Esse livro foi elaborado depois de leituras dos escritos de Freinet e de discussões sobre eles. Elegemos os temas centrais. Decidimos que a publicação seria uma contrapalavra de resistência no interior do debate educacional atual. Entendemos que essa contrapalavra é luta! O som do coro pode estar baixo no momento, mas esperamos elevar os decibéis ao juntarmos todas as vozes dos professores que estão fartos de superficialidades, mentiras e manipulações!
O momento de escrita foi individual, mas todos nós optamos por utilizar a técnica de melhoramento do texto proposta por Freinet aos seus alunos. Fizemos da construção deste livro um verdadeiro momento de cooperação entre os autores. Todos leram os textos de todos e todos nós contribuímos para registro final dos textos, num verdadeiro movimento de enriquecimento coletivo de aprendizagem.