
Obra do final do século XIX marcada pela ousadia do autor por tratar de um tema tão delicado para a época, a questão das minorias sexuais.
O autor explora a influência da escravidão no comportamento dos indivíduos, particularmente num momento em que o chicote do capataz é substituído pela chibata do mestre.
Continua-se em uma ordem que gera a força, transmutando-a em passividade. Nesse mundo quebrado, rachado lá no fundo, em conflito consigo mesmo é que o heroísmo e o garbo de uma Marinha sempre vista como “elite” são postos a nu por Adolfo Caminha, com a crueza do Naturalismo então em voga.
Amaro, um imponente e lúbrico marinheiro negro, escravo fugido de uma fazenda do interior do Rio de Janeiro, apaixona-se por Aleixo, um jovem e ingênuo grumete branco, que conhece no seu navio de guerra. Mas o destino separa-os e, quando Amaro finalmente reencontra Aleixo, as suas piores suspeitas confirmam-se.
O Bom-Crioulo foi recebido em 1895, data da sua publicação, com escândalo pela crítica literária e silêncio pelo público, devido à frontalidade e ao erotismo, pouco usuais para a época, da sua abordagem a temas tabu, como o sexo inter-racial e a homossexualidade em ambiente militar.
O romance foi esquecido na primeira metade do século XX mas voltaria a ser publicado na segunda metade do mesmo século, tendo posteriormente sido traduzido para o inglês, espanhol, alemão, francês e italiano. Atualmente, faz parte do programa de leituras do exame vestibular de muitas universidades brasileiras.
Adolfo Ferreira Caminha nasceu em Aracati, CE, em 1867 e faleceu no Rio de Janeiro, 1897. Após ter-lhe morrido a mãe, ficando órfão com mais cinco irmãos, foi para a companhia de parentes em Fortaleza.
Seis anos depois, em 1883, mudou-se para a casa de seu tio no Rio de Janeiro que o matriculou na antiga Escola da Marinha. Em 1886, saiu a publicação em versos de Vôos Incertos. No mesmo ano, fez uma viagem de instrução aos Estados Unidos.
Em 1887, a 16 de Dezembro, promovido a 2º tenente, publicou Judite e Lágrimas de um Crente, livro de contos. Em 1888, regressa a Fortaleza. No ano de 1890 se demite e com a mulher e duas filhas segue para o Rio de Janeiro, onde vive como funcionário público.
Em 1891, fundou, em Fortaleza, a Revista Moderna, e colaborou no jornal O Norte. Em 1893, lançou o romance A Normalista, colaborou na Gazeta de Notícias e em O País. Em 1894, publicou No País dos Ianques, fruto de sua ida, oito anos antes, aos Estados Unidos. Um ano depois, publica o romance O Bom-Crioulo, e Cartas Literárias.
Em 1896, ano em que fundou a Nova Revista, publicou Tentação. Atormentado pelas dificuldades econômicas e debilitado pela tuberculose, morre precocemente aos 29 anos. Deixou inacabados os romances: Ângelo e O Emigrado.
