
Raymond Aron – O Ópio Dos Intelectuais
A religião é o suspiro da criatura esmagada pela desgraça, a alma de um mundo sem coração, assim como o espírito de uma época sem espírito. É o ópio do povo. Karl Marx
O marxismo é totalmente religião, no sentido mais impuro da palavra. Antes de tudo, compartilha com todas as formas inferiores da vida religiosa o fato de ter sido continuamente usado, segundo a observação tão precisa de Marx, como um ópio para o povo. Simone Weil
A alternativa entre esquerda e direita tem ainda algum significado? Quem fizer a pergunta se torna imediatamente suspeito. Por sinal, Alain escreveu: “Quando me perguntam se a divisão entre partidos de direita e de esquerda, entre homens de direita e homens de esquerda tem ainda algum sentido, a primeira ideia que me vem à cabeça é a de que a pessoa que faz a pergunta provavelmente não é de esquerda”. Não vamos deixar que esse tipo de censura nos paralise, até porque ela demonstra mais um preconceito do que uma convicção racional.
A esquerda, segundo o dicionário Littré, é “o partido de oposição nas câmaras francesas, o partido que ocupa os assentos à esquerda do presidente”. A palavra, no entanto, não significa mais oposição. Os partidos se alternam no poder e o partido de esquerda continua sendo de esquerda, mesmo estando no governo.
Ao insistir no alcance dos dois termos – direita e esquerda -, não se constata apenas que, na mecânica das forças políticas, dois blocos tendem a se formar, separados por um centro constantemente invadido. Sugere-se também a existência de dois modelos de homem, com atitudes fundamentalmente contrárias; ou de duas concepções distintas, em um diálogo que prossegue, sempre o mesmo, com mudanças de vocabulário e de instituições; ou, ainda, de dois fronts, cuja luta preenche a crônica dos séculos. Será que existem de fato esses dois tipos de homens, de filosofias e de partidos fora da imaginação dos historiadores, obnubilados pela experiência do caso Dreyfus e por uma interpretação questionável da sociologia eleitoral?
Entre os diferentes grupos que se dizem de esquerda, jamais houve uma unidade profunda. A cada nova geração, os slogans e os programas políticos mudam. A esquerda que ontem lutava por um regime constitucional tem ainda algo em comum com esta que hoje se afirma nos regimes democráticos populares?











