
O objetivo manifesto no presente trabalho acadêmico, de apresentar reflexões dedicadas ao pensamento latino-americano e à educação, estabelecendo como fio condutor uma “ética situada”, requer primeiramente alguns esclarecimentos de natureza filosófica. No campo da filosofia, o termo “ética” implica conceber a circunscrição do comportamento humano a ideais universalistas, de maneira a pressupor a existência de uma essência ou substância humana que independe do momento histórico ou do contexto cultural e social.
É esse, por exemplo, o fundamento do imperativo categórico kantiano, em seu objetivo básico de ancorar a norma de conduta na substância racional do homem. Sob esse ponto de vista, não se poderia pura e simplesmente “situar” a ética a determinada cultura ou época histórica, pois isso implicaria restringir a validade do conceito a um determinado contexto particular e histórico.
Falar de uma “ética situada” e restrita a um conjunto específico de valores e comportamentos morais, culturais e religiosos, somente adquire significado filosófico quando se considera a opção teórica e política demarcada pelo pós-colonialismo latino-americano, e sobretudo pelo giro decolonial constituído nos anos 1990 por intelectuais latino-americanos.
Pensar a educação e a ética a partir de um lugar situado, mas que é influenciado por outras ideias e concepções, implica e solicita um esforço na busca de se pensar a partir de uma outra perspectiva, que contemple outras vozes, outros protagonismos, outros “centros” de produção de pensamento e ideias.
Muitos dos problemas e desafios que encontramos na escola podem ser melhor redimensionados a partir de uma visão “de dentro”, isto é, de um olhar atento aos componentes históricos que nos compõe como povo latino-americano e, assim, transformar o processo de formação de professores, as nossas práticas pedagógicas, as nossas políticas educacionais, dentre outros aspectos que possamos considerar.
A publicação de Pensamento Latino-Americano E Educação: Por Uma Ética Situada para o público brasileiro e latino-americano pretende ser também um espaço de resistência, de combate e de luta, para que a educação seja a protagonista, de fato e de direito, na transformação das pessoas e do mundo.











