
Os pobres urbanos das cidades latino-americanas, durante o século passado, estiveram no centro dos debates dos intelectuais do continente.
A reflexão em torno deles alimentou um vasto corpus teórico que tentou compreender a especificidade da questão social nas metrópoles da América Latina, procurando enquadrar a ação coletiva dos moradores das diversas formas de habitação popular em esquemas analíticos coerentes com projetos políticos que disputavam o direito de conduzir as sociedades dependentes pela trilha do desenvolvimento.
Compreendidos, por alguns autores, como massa de manobra potencialmente à disposição de projetos populistas ou revolucionários, como força auxiliar do proletariado, ou como os principais protagonistas de uma nova forma de luta de classes, como diria Manuel Castells, apesar do caráter secundário da contradição que os define (consumo/habitação), os marginais ou marginalizados estiveram no núcleo dos debates políticos e teóricos em determinadas conjunturas.
Daí que a célebre expressão de Touraine, aparentemente paradoxal, sobre “a centralidade dos marginais”, define um traço capital do tópico da ação coletiva popular na América Latina.
O alvo da reflexão que quero propor é mostrar qual é o papel das ciências sociais na constituição e reconhecimento como atores políticos dos pobres urbanos das cidades do Rio de Janeiro e de Santiago do Chile: Favelados E Pobladores.
Em outras palavras, o que pretendo responder é em que medida as ciências sociais contribuíram para a constituição do Movimento de Pobladores e de Favelados, compreendendo ambos os movimentos também como uma construção teórica.
Embora ambas as categorias, favelados e pobladores, correspondam a uma forma particular dos pobres urbanos, e não à sua totalidade, essas etiquetas concentram boa parte do debate sobre a questão social urbana no continente.
A favela provavelmente é a forma de habitação popular que maior impacto teve no imaginário sobre pobreza urbana dentro e fora da academia; enquanto a forma de habitação que deu origem aos pobladores teve uma repercussão chave no reconhecimento de um movimento social de caráter eminentemente urbano que, desde uma posição subalterna, é capaz de gerar transformações sociais profundas, não apenas na estrutura urbana como na sociedade em geral.











