
Em Movimentos De Demolição, são estudados fenômenos da cidade pós-moderna tomando por base a literatura e sua escrita, a constituição das identidades, os deslocamentos e, claro, as possibilidades de criação de sentido e significação do sujeito pós-moderno.
A autora, a partir da escrita literária, em especial os trabalhos do escritor norte-americano Paul Auster, discute como a cidade em estado de demolição promove os deslocamentos e faz com que surjam novas e deslizantes identidades flutuantes, tornando a própria cidade um espaço de flutuação, de deriva e de busca de territórios que foram perdidos e encontram-se redesenhados ou sob os escombros de sentido na contemporaneidade.
Aliando clareza e pensamento incisivo, Rafaela Scardino nos apresenta um estudo cujo desenho bibliográfico de culta e cuidadosa pesquisa nos dá a medida das preocupações da contemporaneidade sobre a cidade e seus sujeitos múltiplos, cujos deslocamentos imprecisos e demolidores nos fazem pensar naqueles assim chamados “abrigos de guerra”.
Aliás, tomando por base as personagens de Paul Auster, poderíamos nos perguntar se estamos reinventando a cidade ou sofrendo a cidade. A indagação poderia e, talvez, venha recair, realmente, sobre as práticas subjetivas e a constituição de um eu na pós-modernidade.
Em palavras outras, Rafaela nos dirige as perguntas: como se dá e se constitui, na cidade pós-moderna, o sujeito flutuante e em estado de invenção de uma possível e nova dignidade sobre os escombros modernos? Como a escrita literária refaz os caminhos e os mapas fragmentados desse sujeito que, para existir, precisa novamente reinventar tanto o eu quanto a identidade?
O trabalho de Rafaela Scardino, como se pode depreender, nos remete não mais ao sonho moderno de uma cidade exata e racionalista, mas ao desejo incandescente da cidade e dos espaços pós-modernos que nos fazem caminhar em estilhaços e, ainda, aos seus sujeitos flutuando com os mapas e problemas da instabilidade e dos contatos subjetivos nos mundos urbanos pós-modernos.
Rafaela, com competência e acuidade, nos indaga, nos dez “fragmentos de reflexão” que compõem Movimentos De Demolição, a respeito do sujeito destes mundos de “não-lugares” e cidades implodidas que desejam, como as personagens de Paul Auster, livrar-se de suas subjetividades problemáticas.











