
Como identificar uma obra de arte entre dois objetos aparentemente idênticos? Se ambos são perceptivelmente iguais, o que alça um deles ao mundo da arte e mantém o outro no ordinário mundo das coisas? Que predicado invisível honraria apenas uma das duas peças? E quem atribui tal distinção?
Perguntas como estas conduzem o pensamento do filósofo e crítico norte-americano Arthur C. Danto a reflexões invulgares no livro A Transfiguração Do Lugar-Comum, um dos livros mais importantes dos últimos 50 anos, que a editora Cosac Naify agora publica no Brasil.
Escrito no final da década de 1970 e editado pela primeira vez em 1981, depois da consagração da arte pop, do minimalismo, da arte conceitual e da arte povera, A Transfiguração Do Lugar-Comum examina a diferença ontológica entre trabalhos de arte e objetos do cotidiano, à primeira vista indistinguíveis, numa estrutura de pensamento inspirada no programa dialógico de Platão.
Pensado originalmente para integrar uma obra em cinco volumes sobre a filosofia analítica – projeto incompleto e formado, até agora, por Analytical philosophy of history (1965), Analytical philosophy of knowledge (1968) e Analytical philosophy of action (1973) –, A Transfiguração Do Lugar-Comumacabou por se tornar o primeiro de uma série de três títulos sobre filosofia da arte. Os que o sucederam são After the end of art (1997) e The abuse of beauty (2003).
O objetivo do autor é formular uma definição da arte, sem se ocupar com regras que estabeleçam critérios para o reconhecimento de uma obra de arte – o que, ademais, seria missão inglória.
A tarefa concentra-se, então, em análises sobre a inserção do trabalho de arte na realidade, sobre a constituição da unidade “forma e conteúdo” numa peça artística e sobre as naturezas da reação estética e da interpretação por parte do observador.
Danto extrai exemplos da arte do pós-guerra nos Estados Unidos, em comentários sobre a produção de Barnett Newman, Claes Oldenburg, Andy Warhol e Roy Lichtenstein, entre outros artistas.
Ele também convoca Velázquez, Hegel, Wittgenstein e Cézanne, para falar da filosofia e da arte como contrastes para as noções que tentam definir o real: “O valor filosófico da arte reside no fato histórico de, em seu surgimento, ter ajudado a trazer à consciência dos homens o conceito de realidade”.











