
As manifestações de uma realidade exibem movimentos sutis, próprios de uma tessitura ampla cuja trama não se dá a conhecer de imediato.
São deslocamentos na superfície, muitas vezes não perceptíveis a um olhar desatento ou passageiro.
Ao ler este livro, o leitor se postará como diante de uma tela, um espelho. Não se trata propriamente, no seu conteúdo, de um retrato da realidade escolar, embora se aproxime de uma reprodução da vida da escola, mais ou menos exata na apreensão de suas características.
E não é propriamente um retrato, pois que a leitura do texto nos incita o movimento de um olhar atento, incidente sobre momentos da vida escolar que deixam transparecer sutilezas reveladoras de sua trama complexa.
A luz que o livro vislumbrou no recôndito das escolas foi possível porque o caminho a que se propôs partia do já conhecido para o ainda não conhecido, embora presente. Tal via exige o esforço da pesquisa rigorosa.
Pressupondo as condições contextuais mais amplas que condicionam o bom desempenho dos estudantes tais como estratificação social, distribuição de renda e acesso prévio a bens culturais, o olhar atento dos cotidiano escolar que inclui precariamente alunos desse país, em especial aqueles que são sub-representados na apropriação dos bens socialmente produzidos.
A rigor, esse olhar atento se desdobrou em olhares que, por sucessivas aproximações voltadas para aspectos diferentes e coexistentes na ambiência escolar, vão configurando as múltiplas imagens que o espelho vai traduzindo.
São olhares que captam uma escola que persevera em um modo de ser e, ao mesmo tempo, não pode deixar de atender os reclamos da efetivação de uma outra escola que se quer democrática.
Ambas coexistem no mesmo espaço. Contraditoriamente. Uma, herança de um passado próprio da frequentação de estudantes socialmente mais homogêneos.
Outra, produto dos deslocamentos sóciopolíticos que permitiram a muitos outros acederem aos bancos escolares.
Uma se encontra com a outra, não se reconhecem, mas se vêem constrangidas, ao menos pela formalização em lei, a se reconhecerem e a se tornarem próximas.











