Kafka: Por Uma Literatura Menor

Em Kafka: Por Uma Literatura Menor, Deleuze e Guattari arrancam a arte e a escrita do regime da interpretação e advogam uma concepção completamente nova da literatura. Uma obra não propõe uma ficção imaginária que seria preciso analisar através da personalidade de seu autor, nem um modelo simbólico de transposição cuja estrutura seria preciso descobrir, reencontrando seu sentido eterno.


É uma toca, espaço de habitação, de deambulação e de reserva nutritiva, uma máquina política e experimental que transforma realmente nossas experiências e leva o leitor, assim como a literatura, a caminhos novos. Não uma metáfora, passagem do sentido próprio a um sentido figurado, mas uma metamorfose, produção de sentido, cartografia prática através dos signos que, por ser uma experiência nova, devem primeiramente ser construídos.
Contra toda hermenêutica do imaginário e do simbólico, a máquina literária menor não reproduz os códigos estabelecidos, mas faz passar algo do real através da escrita para transformar nossas maneiras de ver e de sentir. A Literatura não tem nada de um lazer inofensivo, mas é uma máquina de guerra, uma experimentação política.
Como entrar na obra de Kafka? É um rizoma, uma toca. O Castelo tem “entradas múltiplas” cujas leis de uso e distribuição a gente não sabe muito bem. O hotel de América tem inúmeras portas, principais e auxiliares, às quais velam outros tantos recepcionistas, e mesmo entradas e saídas sem portas.
Parece, no entanto, que a Toca, na novela com este nome, tem só uma entrada; no máximo, o bicho imagina a possibilidade de uma segunda entrada que teria apenas uma função de vigilância. Mas é uma armadilha, do bicho, e do próprio Kafka; toda a descrição da toca é feita para enganar o inimigo. Entrar-se-á, então, por qualquer parte, nenhuma vale mais que a outra, nenhuma entrada tem privilégio, ainda que seja quase um impasse, uma trincheira estreita, um sifão, etc.
Procurar-se-á somente com quais outros pontos conecta-se aquele pelo qual se entra, por quais encruzilhadas e galerias se passa para conectar dois pontos, qual é o mapa do rizoma, e como ele se modificaria imediatamente se se entrasse por um outro ponto. O princípio das entradas múltiplas impede, sozinho, a entrada do inimigo, o Significante, e as tentativas para interpretar uma obra que apenas se propõe, de fato, à experimentação.

   

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Em Kafka: Por Uma Literatura Menor, Deleuze e Guattari arrancam a arte e a escrita do regime da interpretação e advogam uma concepção completamente nova da literatura. Uma obra não propõe uma ficção imaginária que seria preciso analisar através da personalidade de seu autor, nem um modelo simbólico de transposição cuja estrutura seria preciso descobrir, reencontrando seu sentido eterno.
É uma toca, espaço de habitação, de deambulação e de reserva nutritiva, uma máquina política e experimental que transforma realmente nossas experiências e leva o leitor, assim como a literatura, a caminhos novos. Não uma metáfora, passagem do sentido próprio a um sentido figurado, mas uma metamorfose, produção de sentido, cartografia prática através dos signos que, por ser uma experiência nova, devem primeiramente ser construídos.
Contra toda hermenêutica do imaginário e do simbólico, a máquina literária menor não reproduz os códigos estabelecidos, mas faz passar algo do real através da escrita para transformar nossas maneiras de ver e de sentir. A Literatura não tem nada de um lazer inofensivo, mas é uma máquina de guerra, uma experimentação política.
Como entrar na obra de Kafka? É um rizoma, uma toca. O Castelo tem “entradas múltiplas” cujas leis de uso e distribuição a gente não sabe muito bem. O hotel de América tem inúmeras portas, principais e auxiliares, às quais velam outros tantos recepcionistas, e mesmo entradas e saídas sem portas.
Parece, no entanto, que a Toca, na novela com este nome, tem só uma entrada; no máximo, o bicho imagina a possibilidade de uma segunda entrada que teria apenas uma função de vigilância. Mas é uma armadilha, do bicho, e do próprio Kafka; toda a descrição da toca é feita para enganar o inimigo. Entrar-se-á, então, por qualquer parte, nenhuma vale mais que a outra, nenhuma entrada tem privilégio, ainda que seja quase um impasse, uma trincheira estreita, um sifão, etc.
Procurar-se-á somente com quais outros pontos conecta-se aquele pelo qual se entra, por quais encruzilhadas e galerias se passa para conectar dois pontos, qual é o mapa do rizoma, e como ele se modificaria imediatamente se se entrasse por um outro ponto. O princípio das entradas múltiplas impede, sozinho, a entrada do inimigo, o Significante, e as tentativas para interpretar uma obra que apenas se propõe, de fato, à experimentação.

   

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