A Natureza Da Ação

Quase sempre o pensamento filosófico sobre a ação humana e sobre as suas condições se fez de costas viradas, quando não mesmo em oposição dedicada, a quaisquer perspectivas que colocassem em jogo a natureza biológica do humano e a natureza ultimamente física dos processos biológicos.

Como se um certo narcisismo de espécie não se permitisse uma natureza simplesmente natural do humano e da sua ação no mundo. Como se, de outro modo, sem uma irredutibilidade de fundo, o próprio humano e a sua ação no mundo vissem perturbado o sentido que pudessem fazer no mundo, para os outros e para si mesmos. Como se uma desqualificação da natureza estivesse implicitamente assumida na percepção que fazemos de nós humanos.
Contudo, motivos abundantes obrigam a levar com menos certeza cortante os gumes conceituais que separaram os campos da ação humana e da natureza. Depois de Copérnico e Galileu, que deslocaram o centro do universo da Terra, depois de Darwin, que deslocou a humanidade para a mesma origem das espécies que todas as outras espécies do planeta, depois de Freud, que deslocou a atenção ao psiquismo da racionalidade consciente para planos e equilíbrios inconscientes, uma quarta ferida narcísica pode bem estar a ser infligida ao âmbito do agir humano com a consolidação disciplinar da neurobiologia.
É este enquadramento crítico que inscreve a reflexão filosófica de Ana Leonor Santos, professora e investigadora da Universidade da Beira Interior, no domínio da Ética, onde tem a cargo a regência de várias unidades curriculares da área. Do seu ponto de vista, é possível tanto uma teoria filosófica da ação como uma teoria neurobiológica da ação. Contudo, acrescenta, nenhuma delas pode ter a ambição de ser uma teoria completa da ação, motivo para que faça sentido o propósito teórico de conceitualizar uma neurofilosofia da ação.
Este não é, contudo, um programa fácil. Obriga a pensar como articular perspectivas da primeira e da terceira pessoa, tal como razões e causas, que, por se terem organizado em planos de quase autonomia, se dispensaram, quase ou mesmo totalmente, de referências recíprocas. Por isso, a primeira demonstração é a da incompletude de ambas as abordagens teóricas, ou do fracasso das suas ambições de completude. Mas de uma forma positiva, que demonstre o fracasso fazendo sobressair aspectos novos, interdependências, pistas heurísticas.

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Quase sempre o pensamento filosófico sobre a ação humana e sobre as suas condições se fez de costas viradas, quando não mesmo em oposição dedicada, a quaisquer perspectivas que colocassem em jogo a natureza biológica do humano e a natureza ultimamente física dos processos biológicos. Como se um certo narcisismo de espécie não se permitisse uma natureza simplesmente natural do humano e da sua ação no mundo. Como se, de outro modo, sem uma irredutibilidade de fundo, o próprio humano e a sua ação no mundo vissem perturbado o sentido que pudessem fazer no mundo, para os outros e para si mesmos. Como se uma desqualificação da natureza estivesse implicitamente assumida na percepção que fazemos de nós humanos.
Contudo, motivos abundantes obrigam a levar com menos certeza cortante os gumes conceituais que separaram os campos da ação humana e da natureza. Depois de Copérnico e Galileu, que deslocaram o centro do universo da Terra, depois de Darwin, que deslocou a humanidade para a mesma origem das espécies que todas as outras espécies do planeta, depois de Freud, que deslocou a atenção ao psiquismo da racionalidade consciente para planos e equilíbrios inconscientes, uma quarta ferida narcísica pode bem estar a ser infligida ao âmbito do agir humano com a consolidação disciplinar da neurobiologia.
É este enquadramento crítico que inscreve a reflexão filosófica de Ana Leonor Santos, professora e investigadora da Universidade da Beira Interior, no domínio da Ética, onde tem a cargo a regência de várias unidades curriculares da área. Do seu ponto de vista, é possível tanto uma teoria filosófica da ação como uma teoria neurobiológica da ação. Contudo, acrescenta, nenhuma delas pode ter a ambição de ser uma teoria completa da ação, motivo para que faça sentido o propósito teórico de conceitualizar uma neurofilosofia da ação.
Este não é, contudo, um programa fácil. Obriga a pensar como articular perspectivas da primeira e da terceira pessoa, tal como razões e causas, que, por se terem organizado em planos de quase autonomia, se dispensaram, quase ou mesmo totalmente, de referências recíprocas. Por isso, a primeira demonstração é a da incompletude de ambas as abordagens teóricas, ou do fracasso das suas ambições de completude. Mas de uma forma positiva, que demonstre o fracasso fazendo sobressair aspectos novos, interdependências, pistas heurísticas.

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