Estilo E Verdade Em Jacques Lacan

A psicanálise pode dispensar o tema da verdade ? Há dois axiomas de Lacan acerca da verdade : (I) há verdade ; (II) não há verdade da verdade. Eles interessam tanto à clínica quanto à teoria.

Este livro é uma tentativa de responder à inquietação posta por esta coexistência, aparentemente paradoxal, de uma verdade que fala, que toca o real, mas que não possui em si mesma o índice de sua própria veracidade. O que significa, então, dizer sempre a verdade, mas nunca poder dizê-la toda ? Quais as implicações de uma verdade que sempre encontra uma maneira de se manifestar, mas que, ao mesmo tempo, não traz em seu rosto nenhuma marca visível, não traz em si nenhuma garantia de que saibamos reconhecê-la quando nos defrontarmos com ela ?
A verdade de que trata a psicanálise, relativa ao sintoma, ao desejo, ao real do sexo, à interpretação, ao final de análise, aos ditos e não ditos do sujeito no processo de cura remete sempre a outra cena, a que Freud chamava o inconsciente, ou, mais precisamente, pensamento inconsciente. Não obstante, o esforço lacaniano de formalizar as condições desta verdade que resiste ao saber acaba por mobilizar instrumentos e dispositivos exteriores ao campo clínico. O resultado desse empreendimento é a constituição de um campo de forças cujos vetores fundamentais atravessam vários campos do saber, interessando não apenas à psicanálise, mas às ciências da linguagem, à literatura e, de forma aguda, à filosofia. Neste sentido preciso, a verdade tal como trabalhada por Lacan interessa o pensamento, dialogando, reta ou obliquamente, com as principais vertentes do pensamento contemporâneo.
Como dizer que “não há verdade da verdade” sem recair numa contradição performativa ? Sem que essa própria proposição, que deveria suspender as garantias últimas da verdade, que deveria limitar as pretensões da verdade, se erija em verdade última e se devore, como a serpente de Valéry, que engole a própria cauda ? É aqui que se coloca a questão do estilo, ou de como dizer o que se diz. Assim, Lacan não apenas teorizou sobre essa modalidade da verdade e forneceu sua formalização lógica, mas também praticou-a, não apenas no exercício cotidiano da clínica, mas também no exercício de uma escrita obstinada em estabelecer protocolos exigentes de transitar entre estes limites tênues, de uma verdade que não se pode dizer, mas que nem por isso se cala. Por isso ele praticou este estilo em que a lei formal de enunciação da verdade é o semi-dizer.

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A psicanálise pode dispensar o tema da verdade ? Há dois axiomas de Lacan acerca da verdade : (I) há verdade ; (II) não há verdade da verdade. Eles interessam tanto à clínica quanto à teoria. Este livro é uma tentativa de responder à inquietação posta por esta coexistência, aparentemente paradoxal, de uma verdade que fala, que toca o real, mas que não possui em si mesma o índice de sua própria veracidade. O que significa, então, dizer sempre a verdade, mas nunca poder dizê-la toda ? Quais as implicações de uma verdade que sempre encontra uma maneira de se manifestar, mas que, ao mesmo tempo, não traz em seu rosto nenhuma marca visível, não traz em si nenhuma garantia de que saibamos reconhecê-la quando nos defrontarmos com ela ?
A verdade de que trata a psicanálise, relativa ao sintoma, ao desejo, ao real do sexo, à interpretação, ao final de análise, aos ditos e não ditos do sujeito no processo de cura remete sempre a outra cena, a que Freud chamava o inconsciente, ou, mais precisamente, pensamento inconsciente. Não obstante, o esforço lacaniano de formalizar as condições desta verdade que resiste ao saber acaba por mobilizar instrumentos e dispositivos exteriores ao campo clínico. O resultado desse empreendimento é a constituição de um campo de forças cujos vetores fundamentais atravessam vários campos do saber, interessando não apenas à psicanálise, mas às ciências da linguagem, à literatura e, de forma aguda, à filosofia. Neste sentido preciso, a verdade tal como trabalhada por Lacan interessa o pensamento, dialogando, reta ou obliquamente, com as principais vertentes do pensamento contemporâneo.
Como dizer que “não há verdade da verdade” sem recair numa contradição performativa ? Sem que essa própria proposição, que deveria suspender as garantias últimas da verdade, que deveria limitar as pretensões da verdade, se erija em verdade última e se devore, como a serpente de Valéry, que engole a própria cauda ? É aqui que se coloca a questão do estilo, ou de como dizer o que se diz. Assim, Lacan não apenas teorizou sobre essa modalidade da verdade e forneceu sua formalização lógica, mas também praticou-a, não apenas no exercício cotidiano da clínica, mas também no exercício de uma escrita obstinada em estabelecer protocolos exigentes de transitar entre estes limites tênues, de uma verdade que não se pode dizer, mas que nem por isso se cala. Por isso ele praticou este estilo em que a lei formal de enunciação da verdade é o semi-dizer.

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