Judaísmo E Modernidade

O judaísmo moderno corresponde aos diversos esforços de traduzir a tradição judaica rabínica em conceitos e valores da modernidade. Esta tradução não foi somente intelectual, mas, fundamentalmente, prática. Significou o abandono da auto-organização comunal e a autonomia cultural e judiciária dos judeus que o rolo compressor do Estado moderno não podia suportar. Na visão dos defensores da causa judaica na Revolução Francesa, a emancipação política dos judeus passava pela emancipação do judaísmo. Os “vícios” judaicos – hábitos alimentares repulsivos; misantropia – eram generosamente explicados como se fora efeito do isolamento a que foram condenados. A integração na sociedade permitiria uma rápida “regeneração” do povo judeu.
Embora a emancipação tenha gerado conflitos no interior da comunidade judaica entre os defensores da tradição e da mudança, a rapidez e a disposição com que a maioria
dos judeus se dispôs a aceitar a modernidade só é explicada pelos séculos de opressão e humilhação que precederam ao Iluminismo. Não é casual que muitos judeus associaram a Revolução Francesa com a chegada do messias.
Traduzir o judaísmo rabínico à prática da vida moderna implicou a separação entre o domínio público e o privado (para o qual era relegada a vida judaica) e na lealdade ao Estado nacional e suas instituições. Esta identificação era especialmente penosa para os judeus, pois, embora a modernidade europeia tenha sido fortemente secularizante, mantinha elos de continuidade com o mundo cristão: o dia de descanso continuou sendo o domingo, assim como a maioria dos feriados e o próprio calendário (não é casual que o esforço descristianizante da Revolução Francesa culminou com um calendário próprio, e que a festa mais lembrada pelos judeus seja o ano-novo, que sinaliza a vontade de autopreservação pela afirmação de um tempo próprio).
Existencialmente, os tempos modernos significaram um conflito constante entre os valores tradicionais e os novos valores – os primeiros vistos como particulares e os segundos como universais –, entre lealdade à coletividade étnica e lealdade ao Estado nacional – ou humanidade. Intelectualmente, o esforço de traduzir a tradição judaica nos termos discursivos da modernidade deu-se em duas grandes direções, ambas redutoras e empobrecedoras da riqueza do judaísmo.

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O judaísmo moderno corresponde aos diversos esforços de traduzir a tradição judaica rabínica em conceitos e valores da modernidade. Esta tradução não foi somente intelectual, mas, fundamentalmente, prática. Significou o abandono da auto-organização comunal e a autonomia cultural e judiciária dos judeus que o rolo compressor do Estado moderno não podia suportar. Na visão dos defensores da causa judaica na Revolução Francesa, a emancipação política dos judeus passava pela emancipação do judaísmo. Os “vícios” judaicos – hábitos alimentares repulsivos; misantropia – eram generosamente explicados como se fora efeito do isolamento a que foram condenados. A integração na sociedade permitiria uma rápida “regeneração” do povo judeu.
Embora a emancipação tenha gerado conflitos no interior da comunidade judaica entre os defensores da tradição e da mudança, a rapidez e a disposição com que a maioria
dos judeus se dispôs a aceitar a modernidade só é explicada pelos séculos de opressão e humilhação que precederam ao Iluminismo. Não é casual que muitos judeus associaram a Revolução Francesa com a chegada do messias.
Traduzir o judaísmo rabínico à prática da vida moderna implicou a separação entre o domínio público e o privado (para o qual era relegada a vida judaica) e na lealdade ao Estado nacional e suas instituições. Esta identificação era especialmente penosa para os judeus, pois, embora a modernidade europeia tenha sido fortemente secularizante, mantinha elos de continuidade com o mundo cristão: o dia de descanso continuou sendo o domingo, assim como a maioria dos feriados e o próprio calendário (não é casual que o esforço descristianizante da Revolução Francesa culminou com um calendário próprio, e que a festa mais lembrada pelos judeus seja o ano-novo, que sinaliza a vontade de autopreservação pela afirmação de um tempo próprio).
Existencialmente, os tempos modernos significaram um conflito constante entre os valores tradicionais e os novos valores – os primeiros vistos como particulares e os segundos como universais –, entre lealdade à coletividade étnica e lealdade ao Estado nacional – ou humanidade. Intelectualmente, o esforço de traduzir a tradição judaica nos termos discursivos da modernidade deu-se em duas grandes direções, ambas redutoras e empobrecedoras da riqueza do judaísmo.

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