Pequena História Da Música

É comum afirmarem que a Música é tão velha quanto o homem, porém talvez seja mais acertado falar que, como Arte, tenha sido ela, entre as artes, a que mais tardiamente se caracterizou.


O nocionamento do valor decorativo de qualquer criação humana, seja o objeto, o gesto, a frase, o canto, muito provavelmente derivou do tecnicamente mais benfeito. Um machado de pedra mais bem lascado, uma lança mais bem polida, o próprio gesto mais bem realizado, ao mesmo tempo que mais úteis e eficazes, tornam-se naturalmente mais agradáveis. Já o canto, a música, porém, para reunir à sua manifestação o valor estético do agradável, do decorativo, parece exigir mais que a ocasionalidade do apenas mais benfeito. Este valor estético do decorativo exige nela maior organização da técnica, sons fixos, determinação de escalas, etc. E pela sua própria função mágico-social, a música primitiva se via impedida de nocionar o agradável sonoro.
Com efeito, é muito sabido que os espíritos, os seres sobrenaturais concebidos pela mentalidade primitiva, são mais ruins que bons. O deus bom é vaguissimamente nocionado e os primitivos se desinteressam dele, exatamente porque bom, incapaz de os prejudicar. Ao passo que os demônios, a própria caça, o próprio vegetal alimentar sujeito, pra ser bom (útil), ao decorrer das estações, são entidades malfazejas, más, horríveis que ou é preciso afastar duma vez, amedrontando-as, ou torná-las propícias, abrandando-as. Desse princípio derivam todas as magias e incipientes religiões primitivas.
Ora na fabricação de ídolos, de máscaras, na ideação lírica dos mitos e lendas, na gesticulação das dansas imitativas, por mais feios que fossem os demônios, os objetos e coreografias inventados, si tecnicamente mais benfeitos, eles se tornavam, sem querer, mais estéticos – o valor da beleza artística independendo enormemente (embora não completamente) da feiura do assunto. Ao passo que na música vocal ou instrumental, a procura do feio, do som assustador, sibilante, estrondante, da procura do mistério desumano e antinatural, impedia o nocionamento do valor sonoro estético. Quanto mais horrível o som, mais ele se tornava útil, capaz de afastar ou de abrandar, por identidade, os demônios.

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Com efeito, é muito sabido que os espíritos, os seres sobrenaturais concebidos pela mentalidade primitiva, são mais ruins que bons. O deus bom é vaguissimamente nocionado e os primitivos se desinteressam dele, exatamente porque bom, incapaz de os prejudicar. Ao passo que os demônios, a própria caça, o próprio vegetal alimentar sujeito, pra ser bom (útil), ao decorrer das estações, são entidades malfazejas, más, horríveis que ou é preciso afastar duma vez, amedrontando-as, ou torná-las propícias, abrandando-as. Desse princípio derivam todas as magias e incipientes religiões primitivas.
Ora na fabricação de ídolos, de máscaras, na ideação lírica dos mitos e lendas, na gesticulação das dansas imitativas, por mais feios que fossem os demônios, os objetos e coreografias inventados, si tecnicamente mais benfeitos, eles se tornavam, sem querer, mais estéticos – o valor da beleza artística independendo enormemente (embora não completamente) da feiura do assunto. Ao passo que na música vocal ou instrumental, a procura do feio, do som assustador, sibilante, estrondante, da procura do mistério desumano e antinatural, impedia o nocionamento do valor sonoro estético. Quanto mais horrível o som, mais ele se tornava útil, capaz de afastar ou de abrandar, por identidade, os demônios.

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