Guerras Santas

A obra de Jenkins aborda especificamente as controvérsias cristológicas da primeira metade do século V, associadas aos dois concílios de Éfeso (431 e 449) e, em especial, ao de Calcedônia (451)

, do qual resultaria a definição seguida até hoje e, de modo presumível, tida como ortodoxa de modo irrefletido por quase todos os cristãos, leigos e mesmo eclesiásticos.
Dentre os protagonistas eclesiásticos das referidas querelas figuram os bispos Cirilo e Dióscoro de Alexandria, Nestório de Constantinopla e Leão de Roma, além do abade Eutiques, de Constantinopla. A estes se somam instáveis lideranças imperiais como Teodósio II e Marciano, e imperatrizes como Pulquéria, Eudócia e Teodora.
Em caráter ensaístico e propositadamente polemista, o livro de Jenkins possui, a nosso ver, diversos méritos. Atenta à arena historiográfica e eclesiástica que envolve o tema da consolidação e expansão do cristianismo em seus primeiros séculos, a obra contribui para a desnaturalização do processo de institucionalização eclesiástica, revelando a miríade de interesses circunstanciais, bem como a complexa trama dos debates que envolveram tais sínodos, e sua relação com os eventos imperiais de maior envergadura do período. Não raro, a atuação das facções eclesiásticas em disputa é comparada a grupos como máfias e hooligans, com particular destaque às ‘ofertas que não se podia recusar’ dos bispos de Alexandria e ao oportunismo de Juvenal, bispo de Jerusalém.
Portanto, ao problematizar a formulação de um dos pilares da ortodoxia cristã – qual seja, a definição de fé calcedônica, segundo a qual as naturezas humana e divina são unidas em Cristo “sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação” –, o trabalho de Jenkins contesta diretamente o entendimento corrente de que, após a permissão de culto concedida pelo imperador Constantino em 313, a igreja seguiria um caminho de inevitável, unívoco e pacífico triunfo.
Como demonstra o autor, os dados ainda estavam rolando na primeira metade do século V e, no que se refere ao debate cristológico, continuariam a fazê-lo intensamente ao menos até fins do século VII. Assim, além de salientar a violência intrínseca a tais certames, Jenkins alerta para o uso impensado de categorias cambiáveis, como ortodoxo ou herege, na análise de tais disputas.

Links para Download

Link Quebrado?

Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.

Deixe seu comentário

Mais Lidos

Blog

Guerras Santas

A obra de Jenkins aborda especificamente as controvérsias cristológicas da primeira metade do século V, associadas aos dois concílios de Éfeso (431 e 449) e, em especial, ao de Calcedônia (451), do qual resultaria a definição seguida até hoje e, de modo presumível, tida como ortodoxa de modo irrefletido por quase todos os cristãos, leigos e mesmo eclesiásticos.
Dentre os protagonistas eclesiásticos das referidas querelas figuram os bispos Cirilo e Dióscoro de Alexandria, Nestório de Constantinopla e Leão de Roma, além do abade Eutiques, de Constantinopla. A estes se somam instáveis lideranças imperiais como Teodósio II e Marciano, e imperatrizes como Pulquéria, Eudócia e Teodora.
Em caráter ensaístico e propositadamente polemista, o livro de Jenkins possui, a nosso ver, diversos méritos. Atenta à arena historiográfica e eclesiástica que envolve o tema da consolidação e expansão do cristianismo em seus primeiros séculos, a obra contribui para a desnaturalização do processo de institucionalização eclesiástica, revelando a miríade de interesses circunstanciais, bem como a complexa trama dos debates que envolveram tais sínodos, e sua relação com os eventos imperiais de maior envergadura do período. Não raro, a atuação das facções eclesiásticas em disputa é comparada a grupos como máfias e hooligans, com particular destaque às ‘ofertas que não se podia recusar’ dos bispos de Alexandria e ao oportunismo de Juvenal, bispo de Jerusalém.
Portanto, ao problematizar a formulação de um dos pilares da ortodoxia cristã – qual seja, a definição de fé calcedônica, segundo a qual as naturezas humana e divina são unidas em Cristo “sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação” –, o trabalho de Jenkins contesta diretamente o entendimento corrente de que, após a permissão de culto concedida pelo imperador Constantino em 313, a igreja seguiria um caminho de inevitável, unívoco e pacífico triunfo.
Como demonstra o autor, os dados ainda estavam rolando na primeira metade do século V e, no que se refere ao debate cristológico, continuariam a fazê-lo intensamente ao menos até fins do século VII. Assim, além de salientar a violência intrínseca a tais certames, Jenkins alerta para o uso impensado de categorias cambiáveis, como ortodoxo ou herege, na análise de tais disputas.

Link Quebrado?

Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.

Deixe seu comentário

Pesquisar

Mais Lidos

Blog