Reflexões Sobre A Vaidade Dos Homens

Matias Aires - Reflexões Sobre A Vaidade Dos Homens

"Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade".

Com uma profunda reflexão sobre a citação de Eclesiastes, em Reflexões Sobre A Vaidade Dos Homens, cuja primeira edição é de 1752, Matias Aires Ramos da Silva de Eça faz considerações acerca da vida e do comportamento humano, uma vez que, no seu entender, os homens cuidam mais das aparências que das substâncias e se ocupam de viver de mentiras e não de verdades.

Considerado o primeiro filósofo brasileiro, desenvolveu uma "filosofia baseada em aforismos, parecida à dos moralistas franceses La Rochefoucauld, Bossuet e La Bruyère", como bem aponta Alceu Amoroso Lima, escritor e filósofo do século XX, ao prefaciar a obra desse pensador, que nasceu no Brasil, mas viveu e produziu toda a sua obra em Portugal.

Ao considerar a vaidade como a grande paixão humana, o autor faz uma análise na qual os sentimentos "se incorporam e se unem de tal forma a nós, que vêm a ficar sendo uma parte de nós mesmos".

Desse ponto, conclui que a mais vã de todas as vaidades é a que resulta do saber, porquanto "no homem não há pensamento que mais o agrade do que aquele que o representa superior aos demais, que é nele a parte mais sublime".

Sendo o termo da vida limitada, não tem limite a nossa vaidade; porque dura mais, do que nós mesmos e se introduz nos aparatos últimos da morte. Que maior prova, do que a fábrica de um elevado mausoléu?

No silêncio de uma urna depositam os homens as suas memórias, para com a fé dos mármores fazerem seus nomes imortais, querem que a suntuosidade do túmulo sirva de inspirar veneração, como se fôssem relíquias as suas cinzas, e que corra por conta dos jaspes a continuação do respeito. Que frívolo cuidado!

Esse triste resto daquilo que foi homem, já parece um ídolo colocado em um breve, mas soberbo domicílio, que a vaidade edificou para habitação de uma cinza fria, e desta declara a inscrição o nome e a grandeza.

A vaidade até se estende a enriquecer de adornos o mesmo pobre horror da sepultura.

Vivemos com vaidade, e com vaidade morremos; arrancando os últimos suspiros, estamos dispondo a nossa pompa fúnebre, como se em hora tão fatal o morrer não bastasse para ocupação: nessa hora, em que estamos para deixar o mundo, ou em que o mundo está para nos deixar, e entramos a compor, e a ordenar o nosso acompanhamento, e assistência funeral; e com vanglória antecipada nos pomos a antever aquela cerimônia, a que chamam as nações últimas honras, devendo antes chamá-la vaidades últimas.

 

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Reflexões Sobre A Vaidade Dos Homens

Matias Aires – Reflexões Sobre A Vaidade Dos Homens

“Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade”.

Com uma profunda reflexão sobre a citação de Eclesiastes, em Reflexões Sobre A Vaidade Dos Homens, cuja primeira edição é de 1752, Matias Aires Ramos da Silva de Eça faz considerações acerca da vida e do comportamento humano, uma vez que, no seu entender, os homens cuidam mais das aparências que das substâncias e se ocupam de viver de mentiras e não de verdades.

Considerado o primeiro filósofo brasileiro, desenvolveu uma “filosofia baseada em aforismos, parecida à dos moralistas franceses La Rochefoucauld, Bossuet e La Bruyère”, como bem aponta Alceu Amoroso Lima, escritor e filósofo do século XX, ao prefaciar a obra desse pensador, que nasceu no Brasil, mas viveu e produziu toda a sua obra em Portugal.

Ao considerar a vaidade como a grande paixão humana, o autor faz uma análise na qual os sentimentos “se incorporam e se unem de tal forma a nós, que vêm a ficar sendo uma parte de nós mesmos”.

Desse ponto, conclui que a mais vã de todas as vaidades é a que resulta do saber, porquanto “no homem não há pensamento que mais o agrade do que aquele que o representa superior aos demais, que é nele a parte mais sublime”.

Sendo o termo da vida limitada, não tem limite a nossa vaidade; porque dura mais, do que nós mesmos e se introduz nos aparatos últimos da morte. Que maior prova, do que a fábrica de um elevado mausoléu?

No silêncio de uma urna depositam os homens as suas memórias, para com a fé dos mármores fazerem seus nomes imortais, querem que a suntuosidade do túmulo sirva de inspirar veneração, como se fôssem relíquias as suas cinzas, e que corra por conta dos jaspes a continuação do respeito. Que frívolo cuidado!

Esse triste resto daquilo que foi homem, já parece um ídolo colocado em um breve, mas soberbo domicílio, que a vaidade edificou para habitação de uma cinza fria, e desta declara a inscrição o nome e a grandeza.

A vaidade até se estende a enriquecer de adornos o mesmo pobre horror da sepultura.

Vivemos com vaidade, e com vaidade morremos; arrancando os últimos suspiros, estamos dispondo a nossa pompa fúnebre, como se em hora tão fatal o morrer não bastasse para ocupação: nessa hora, em que estamos para deixar o mundo, ou em que o mundo está para nos deixar, e entramos a compor, e a ordenar o nosso acompanhamento, e assistência funeral; e com vanglória antecipada nos pomos a antever aquela cerimônia, a que chamam as nações últimas honras, devendo antes chamá-la vaidades últimas.

 

https://livrandante.com.br/contribuicao/caneca-menino-contador-de-historias-borda-alca-colorida/

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