1930: A Crítica E O Modernismo

Joao Luis Lafetá – 1930: A Crítica E O Modernismo

A proposta de Lafetá se baseia no intuito de mostrar de que maneira o Modernismo se desdobrou como passagem do 'projeto estético' dos anos 1920 ao 'projeto ideológico' dos anos 1930. E é preciso salientar que ao estabelecer esta distinção ele não quis definir momentos estanques, mas fases de predominância, pois estético e ideológico se combinam nos dois momentos.
1930: A Crítica E O Modernismo foi um marco na crítica brasileira do nosso tempo, e a sua reedição faz pensar no quanto ela perdeu com a morte precoce de João Luiz Lafetá.


Lafetá era contido e exigente, não fazia questão de aparecer nem tinha pressa em publicar. O seu trabalho intelectual se processava com o lento rigor dos que desejam tirar de si mesmos o melhor possível, duvidando sempre do resultado. Rigor e tensão mental, frequentemente tingidos de angústia, caracterizavam o ritmo e o teor do seu esforço de crítico e docente. O cuidado com que preparava os cursos e a longa gestação de dúvidas que lhe custavam florescia em aulas que se podem considerar perfeitas, porque eram verdadeiras obras de arte didática.
Usando o quadro-negro com precisão, desenvolvendo a explicação e intercalando os exemplos com domínio perfeito da matéria, era sempre pessoal, e o auditório talvez sentisse o quanto ele o respeitava, ao perceber a riqueza de informação e de reflexão embutidas no preparo, assim como o esforço de clarificação com que expunha as noções e os conceitos. E com certeza admirava o sereno equilíbrio da sua elocução, servida pela voz grave naturalmente empostada.
O que não podia perceber era a natureza do esforço, da crispação angustiada que precedia aquele resultado; eram as horas de tentativa hesitante, dissolvidas na harmonia da exposição.
Esse grande professor era um crítico finíssimo e cheio de talento, capaz de ler os textos de maneira original e de sobrevoar períodos e tendências com força integrativa. Prova é 1930: A Crítica E O Modernismo, que não por acaso se tornou logo título essencial na bibliografia especializada. Nele, João Luiz Lafetá reinterpretou com espírito renovador o movimento geral do Modernismo brasileiro, como enquadramento e ao mesmo tempo finalidade implícita de um estudo sobre a crítica do decênio de 1930 por meio de amostra significativa.
Teoricamente o seu objetivo é sugerir certas conexões entre literatura e ideologia, problema que tem feito correr rios de tinta; e quem navegou por eles bem sabe como são frequentes as tentativas malogradas, as formulações insatisfatórias e, sobretudo, as afirmações sem demonstração, pecado capital no trabalho crítico. Ora, 1930: A Crítica E O Modernismo é impecável pela segurança com que soube adequar o proposto no plano teórico ao realizado no plano da análise.
Bem concebido e bem composto, 1930: A Crítica E O Modernismo repousa num par de conceitos que o autor manipula tanto no âmbito largo do período, domínio próprio da história literária, quanto no âmbito reduzido de cada obra, domínio da análise crítica. Explícita ou implicitamente, esse par interpretativo percorre o livro, não apenas dando-lhe unidade e coerência, mas operando a interpenetração dos níveis.

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Joao Luis Lafetá – 1930: A Crítica E O Modernismo

A proposta de Lafetá se baseia no intuito de mostrar de que maneira o Modernismo se desdobrou como passagem do ‘projeto estético’ dos anos 1920 ao ‘projeto ideológico’ dos anos 1930. E é preciso salientar que ao estabelecer esta distinção ele não quis definir momentos estanques, mas fases de predominância, pois estético e ideológico se combinam nos dois momentos.
1930: A Crítica E O Modernismo foi um marco na crítica brasileira do nosso tempo, e a sua reedição faz pensar no quanto ela perdeu com a morte precoce de João Luiz Lafetá.
Lafetá era contido e exigente, não fazia questão de aparecer nem tinha pressa em publicar. O seu trabalho intelectual se processava com o lento rigor dos que desejam tirar de si mesmos o melhor possível, duvidando sempre do resultado. Rigor e tensão mental, frequentemente tingidos de angústia, caracterizavam o ritmo e o teor do seu esforço de crítico e docente. O cuidado com que preparava os cursos e a longa gestação de dúvidas que lhe custavam florescia em aulas que se podem considerar perfeitas, porque eram verdadeiras obras de arte didática.
Usando o quadro-negro com precisão, desenvolvendo a explicação e intercalando os exemplos com domínio perfeito da matéria, era sempre pessoal, e o auditório talvez sentisse o quanto ele o respeitava, ao perceber a riqueza de informação e de reflexão embutidas no preparo, assim como o esforço de clarificação com que expunha as noções e os conceitos. E com certeza admirava o sereno equilíbrio da sua elocução, servida pela voz grave naturalmente empostada.
O que não podia perceber era a natureza do esforço, da crispação angustiada que precedia aquele resultado; eram as horas de tentativa hesitante, dissolvidas na harmonia da exposição.
Esse grande professor era um crítico finíssimo e cheio de talento, capaz de ler os textos de maneira original e de sobrevoar períodos e tendências com força integrativa. Prova é 1930: A Crítica E O Modernismo, que não por acaso se tornou logo título essencial na bibliografia especializada. Nele, João Luiz Lafetá reinterpretou com espírito renovador o movimento geral do Modernismo brasileiro, como enquadramento e ao mesmo tempo finalidade implícita de um estudo sobre a crítica do decênio de 1930 por meio de amostra significativa.
Teoricamente o seu objetivo é sugerir certas conexões entre literatura e ideologia, problema que tem feito correr rios de tinta; e quem navegou por eles bem sabe como são frequentes as tentativas malogradas, as formulações insatisfatórias e, sobretudo, as afirmações sem demonstração, pecado capital no trabalho crítico. Ora, 1930: A Crítica E O Modernismo é impecável pela segurança com que soube adequar o proposto no plano teórico ao realizado no plano da análise.
Bem concebido e bem composto, 1930: A Crítica E O Modernismo repousa num par de conceitos que o autor manipula tanto no âmbito largo do período, domínio próprio da história literária, quanto no âmbito reduzido de cada obra, domínio da análise crítica. Explícita ou implicitamente, esse par interpretativo percorre o livro, não apenas dando-lhe unidade e coerência, mas operando a interpenetração dos níveis.

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