Eu Sou Trezentos: Mário De Andrade, Vida E Obra

Este belo livro de Eduardo Jardim parte de uma proposição forte. Com efeito, o estilo suave da escrita, quase uma conversa coloquial com o leitor, não esconde a presença de argumentos inequívocos.

A proposição em questão sustenta que Mário de Andrade, entre os anos 1917 e 1937 teria sido “figura central na vida intelectual do país”.
Os termos postos são claros: “Nenhum escritor, nunca mais, teve como ele tanta importância como artista, como formulador de uma interpretação do Brasil e como animador cultural.”
Um dos muitos méritos do texto de Eduardo Jardim é o de indicar os elementos textuais e imaginativos, na obra e na atuação de Mário de Andrade, que teriam sustentado tal centralidade. Tais elementos estão ali presentes sob a forma de “tensões”, a saber: entre o “impulso lírico” e a “inteligência analítica”; entre o “nacional” e o “universal”; entre a “cultura letrada” e a “cultura popular; entre “invenções formais” e “exigências materiais”, inerentes ao trabalho artístico.
A interseção das tensões indicadas fez com que o esforço intelectual de Mário de Andrade implicasse o desenvolvimento de uma estética própria, ao lado de uma vontade de militância, fundada na crença de que a arte é “um componente da vida social”. Ao Mário de Andrade dos anos 1917-1937 não teria faltado ímpeto demiúrgico, pelo qual uma estética própria e a prática da interpretação do Brasil deram passagem a um espírito de intervenção na vida cultural do país.
A síntese desses aspectos não escapou a Eduardo Jardim: a vida de Mário de Andrade teria sido marcada pela “urgência de realizar um projeto literário, de reforma da cultura e do país”. Não surpreende que esta apreciação notável do programa de Mário de Andrade utilize a forma biografia.
Ator central do Modernismo brasileiro, Mário de Andrade manifestou, na altura dos anos 1940, sua reserva a respeito do que Antonio Candido tão bem denominou como a rotinização do Modernismo. Para Mário, o sucesso estético e a nacionalização artística trazida pelos modernistas, ambos aspectos positivos, teriam dado passagem a um absenteísmo.
Ter-lhe-ia faltado um espírito de “maior revolta contra a vida como está”. O livro de Eduardo Jardim ilumina tanto o trajeto de Mário quanto o limite a ele imposto. O que disto resulta é o perfil de um herói intelectual, grande em suas descobertas, em suas perplexidades e em seus desencantos.

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Este belo livro de Eduardo Jardim parte de uma proposição forte. Com efeito, o estilo suave da escrita, quase uma conversa coloquial com o leitor, não esconde a presença de argumentos inequívocos. A proposição em questão sustenta que Mário de Andrade, entre os anos 1917 e 1937 teria sido “figura central na vida intelectual do país”.
Os termos postos são claros: “Nenhum escritor, nunca mais, teve como ele tanta importância como artista, como formulador de uma interpretação do Brasil e como animador cultural.”
Um dos muitos méritos do texto de Eduardo Jardim é o de indicar os elementos textuais e imaginativos, na obra e na atuação de Mário de Andrade, que teriam sustentado tal centralidade. Tais elementos estão ali presentes sob a forma de “tensões”, a saber: entre o “impulso lírico” e a “inteligência analítica”; entre o “nacional” e o “universal”; entre a “cultura letrada” e a “cultura popular; entre “invenções formais” e “exigências materiais”, inerentes ao trabalho artístico.
A interseção das tensões indicadas fez com que o esforço intelectual de Mário de Andrade implicasse o desenvolvimento de uma estética própria, ao lado de uma vontade de militância, fundada na crença de que a arte é “um componente da vida social”. Ao Mário de Andrade dos anos 1917-1937 não teria faltado ímpeto demiúrgico, pelo qual uma estética própria e a prática da interpretação do Brasil deram passagem a um espírito de intervenção na vida cultural do país.
A síntese desses aspectos não escapou a Eduardo Jardim: a vida de Mário de Andrade teria sido marcada pela “urgência de realizar um projeto literário, de reforma da cultura e do país”. Não surpreende que esta apreciação notável do programa de Mário de Andrade utilize a forma biografia.
Ator central do Modernismo brasileiro, Mário de Andrade manifestou, na altura dos anos 1940, sua reserva a respeito do que Antonio Candido tão bem denominou como a rotinização do Modernismo. Para Mário, o sucesso estético e a nacionalização artística trazida pelos modernistas, ambos aspectos positivos, teriam dado passagem a um absenteísmo.
Ter-lhe-ia faltado um espírito de “maior revolta contra a vida como está”. O livro de Eduardo Jardim ilumina tanto o trajeto de Mário quanto o limite a ele imposto. O que disto resulta é o perfil de um herói intelectual, grande em suas descobertas, em suas perplexidades e em seus desencantos.

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