O Essencial Da Década De 1970

Neste Caio Fernando Abreu: o essencial da década de 1970, que reúne contos, poema, correspondência e até uma precoce peça de teatro no mais autêntico estilo gótico, é uma aventura percorrer os primeiros escritos de Caio F.

e mapear os temas que se tornariam recorrentes ao longo da sua obra: a espera angustiada e silenciosa por alguém que não vem desde “Fotografia”: “[...] o cinzeiro cheio de pontas, essa música indefinida machucando por dentro, como se estivesse sempre aqui.” Uma bola cresce “esmagando as folhas de um outro outono, de um outro tempo, ainda este, o tempo, o outono, a tarde, o mundo, a esfera, a espera em que estou para sempre presa”. No conto que dá o nome ao livro Inventário do ir-remediável, ele diz “quis tanto que você fosse ao meu encontro”, e havia tomado todas as precauções, “deixara o telefone do bar, o endereço, a hora que estaria ali. Um detalhado roteiro, feito dissesse dissimulado estou esperando, você pode me encontrar. Ah, como doía manter-se assim disponível”. E completa tragicamente que ficou à espera, e “ficaria até o fim, até o fundo. Que aceitei a queda, que aceitei a morte. Que nessa aceitação, caí. Que nessa queda, morri. Tenho me carregado tão perdido e pesado pelos dias afora. E ninguém vê que estou morto”.
Também os gestos que não são feitos, ou são por vezes esboçados mas imediatamente detidos, o que não é dito, aquilo que é sonegado, falseado, escamoteado, as expectativas continuamente frustradas, a fome de paixão jamais saciada, a consciência dolorosa de que a paixão é mais importante que o objeto. “Encarou-o tenso, colocando no olhar o desafio: eu te vejo mais fundo do que você me vê, porque eu te invento nesse olhar, porque você se torna meu invento, porque depois de olhar muito dentro eu prescindo da imagem e o meu olhar repleto basta, como se eu fosse cego, mas tivesse guardado todas as imagens: um cego vê mais que um homem comum porque não precisa olhar para fora de si, porque o que ele deseja ver está completamente dentro e é inteiramente seu”, escreve em “A chave e a porta”.

  

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Também os gestos que não são feitos, ou são por vezes esboçados mas imediatamente detidos, o que não é dito, aquilo que é sonegado, falseado, escamoteado, as expectativas continuamente frustradas, a fome de paixão jamais saciada, a consciência dolorosa de que a paixão é mais importante que o objeto. “Encarou-o tenso, colocando no olhar o desafio: eu te vejo mais fundo do que você me vê, porque eu te invento nesse olhar, porque você se torna meu invento, porque depois de olhar muito dentro eu prescindo da imagem e o meu olhar repleto basta, como se eu fosse cego, mas tivesse guardado todas as imagens: um cego vê mais que um homem comum porque não precisa olhar para fora de si, porque o que ele deseja ver está completamente dentro e é inteiramente seu”, escreve em “A chave e a porta”.

  

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