Raça, Ciência E Sociedade

Raça, Ciência E Sociedade - As vinculações entre raça, ciência e sociedade no Brasil, tal como na cultura de diversos outros países ocidentais, é tão antiga quanto multifacetada. Ao analisarmos a trajetória das ciências no Brasil, especialmente a partir do século XIX, defrontamo-nos repetidamente com exemplos que ilustram a íntima e recorrente associação entre tais conceitos.


Vejamos alguns deles. Em 1845 o naturalista alemão Karl von Martius publicou no Jornal do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro um ensaio no qual argumentava que, para se escrever a história do Brasil, era premente abordar as características das três raças que o compunham, quais sejam, dos brancos, índios e negros. Algumas décadas depois, já no início deste século, em 1911, o médico e antropólogo físico João Batista de Lacerda, então diretor do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, viajou para Londres como representante do Governo brasileiro para apresentar no | Congresso Internacional das Raças um trabalho no qual argumentava que o Brasil mestiço de então estava em processo de branqueamento. Para ilustrar sua proposta, Lacerda lançou mão de uma pintura de Brocos y Gómez, reproduzida na capa deste livro, que para ele encapsulava a “esperança” de que a população brasileira viria a branquear em poucas gerações.
Os elementos constitutivos da obra - incluindo expressão, postura, tonalidade da tez e disposição espacial dos personagens - veiculam uma mensagem inequívoca, qual seja, a de que a miscigenação na direção “correta” rapidamente alteraria a constituição racial brasileira. As predições acerca do branqueamento não se concretizaram e na década de 30 os interesses estavam voltados não mais para compreender como havia se processado a diluição e/ou a absorção de uma raça na outra, mas os mecanismos que permitiam uma convivência racial com reduzida taxa de preconceitos no Brasil.
Nos anos 50, a “fórmula” (ou “modelo”) nacional de articular raça e sociedade tornou-se tema de interesse científico para além das fronteiras do País. Foi quando, no clima do pós-guerra, a UNESCO promoveu diversos estudos sobre as relações raciais no Brasil. Tais investigações colocaram em questão o mito da “democracia racial”, especialmente na Região Sudeste, ao darem visibilidade à discriminação racial existente no País.
Nesta nossa década de 90 não esvaeceu o interesse pelos imbricamentos entre raça, ciência e sociedade. Particularmente relevantes são as análises de indicadores sociais, tais como renda, educação e saúde, entre outros, que apontam para a persistência de profundas desigualdades raciais contemporaneamente. Além disso, raça persiste como tema central nas reflexões de caráter histórico ante a relevância do conceito na gênese e desenvolvimento das ciências sociais no Brasil.

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Raça, Ciência E Sociedade – As vinculações entre raça, ciência e sociedade no Brasil, tal como na cultura de diversos outros países ocidentais, é tão antiga quanto multifacetada. Ao analisarmos a trajetória das ciências no Brasil, especialmente a partir do século XIX, defrontamo-nos repetidamente com exemplos que ilustram a íntima e recorrente associação entre tais conceitos.
Vejamos alguns deles. Em 1845 o naturalista alemão Karl von Martius publicou no Jornal do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro um ensaio no qual argumentava que, para se escrever a história do Brasil, era premente abordar as características das três raças que o compunham, quais sejam, dos brancos, índios e negros. Algumas décadas depois, já no início deste século, em 1911, o médico e antropólogo físico João Batista de Lacerda, então diretor do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, viajou para Londres como representante do Governo brasileiro para apresentar no | Congresso Internacional das Raças um trabalho no qual argumentava que o Brasil mestiço de então estava em processo de branqueamento. Para ilustrar sua proposta, Lacerda lançou mão de uma pintura de Brocos y Gómez, reproduzida na capa deste livro, que para ele encapsulava a “esperança” de que a população brasileira viria a branquear em poucas gerações.
Os elementos constitutivos da obra – incluindo expressão, postura, tonalidade da tez e disposição espacial dos personagens – veiculam uma mensagem inequívoca, qual seja, a de que a miscigenação na direção “correta” rapidamente alteraria a constituição racial brasileira. As predições acerca do branqueamento não se concretizaram e na década de 30 os interesses estavam voltados não mais para compreender como havia se processado a diluição e/ou a absorção de uma raça na outra, mas os mecanismos que permitiam uma convivência racial com reduzida taxa de preconceitos no Brasil.
Nos anos 50, a “fórmula” (ou “modelo”) nacional de articular raça e sociedade tornou-se tema de interesse científico para além das fronteiras do País. Foi quando, no clima do pós-guerra, a UNESCO promoveu diversos estudos sobre as relações raciais no Brasil. Tais investigações colocaram em questão o mito da “democracia racial”, especialmente na Região Sudeste, ao darem visibilidade à discriminação racial existente no País.
Nesta nossa década de 90 não esvaeceu o interesse pelos imbricamentos entre raça, ciência e sociedade. Particularmente relevantes são as análises de indicadores sociais, tais como renda, educação e saúde, entre outros, que apontam para a persistência de profundas desigualdades raciais contemporaneamente. Além disso, raça persiste como tema central nas reflexões de caráter histórico ante a relevância do conceito na gênese e desenvolvimento das ciências sociais no Brasil.

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