Vaqueiros E Cantadores

Vaqueiros E Cantadores eram os heróis mais populares de um Nordeste perdido no tempo, quando ainda se vivia como no século XVIII. O sertanejo mandava fazer uma roupa de casimira para durar a vida toda, ser exibida nas festas, no casamento e ser enterrado com ela. As filhas usavam os trajes das mães. Os velhos tomavam banho aos sábados, abençoavam com os dedos unidos e sabiam algumas palavras de latim. O gado se espalhava pelos descampados, reunido nas vaquejadas alegres, celebrado em romances populares, nos quais o grande herói era o boi, rebelde, desafiando o vaqueiro, glorificado pelo povo, o boi Espácio, o boi Surubim.


O sertão vivia de ouvido atento às histórias dos cantadores, quase todos analfabetos, versejando velhos romances, como o da sábia e astuta donzela Teodora, da Princesa Megalona, da Imperatriz Porcina, com as suas figuras clássicas da tradição medieval: cavaleiros andantes, virgens fiéis, paladinos cristãos; os testamentos de Judas em pé-quebrado (espécie de quadra, quase sempre de sete sílabas); os A.B.C., contando a gesta de um touro, um bode, uma onça suçuarana; os pelo-sinais e orações satíricos, todos eles documentados e estudados com insuperável conhecimento por Luís da Câmara Cascudo.
Os desafios entre os grandes mestres paralisavam a vida ao redor e ficavam perpetuados na mente do povo. Muitas vezes, os sertanejos se cotizavam para promover esses encontros.
Os cantadores famosos do sertão, cujas biografias Cascudo registra - Inácio da Catingueira, Francisco Romano, Rio Preto, Leandro Gomes de Barros, Francisco das Chagas Batista, tantos outros -, gozavam de imensa popularidade e fixavam em seus versos, como reportagens vivas e palpitantes, a vida do sertão, seus santos e cangaceiros, padre Cícero e Lampião, unidos pela mesma admiração, a admiração que o sertanejo tem pela bondade e pela coragem.
No prefácio de Vaqueiros E Cantadores, publicado em 1937, o autor comenta sobre o seu trabalho: Reúno neste livro quinze anos de minha vida. Notas, leituras, observações. O material foi colhido diretamente na memória duma infância sertaneja, despreocupada e livre. Os livros, opúsculos, manuscritos, confidências, que mais se passou posteriormente, vieram reforçar, retocando o “instantâneo” que meus olhos meninos haviam fixado outrora. Dezenas de vezes voltei ao sertão de quatro estados e nunca deixei de registrar fatos, versos, “causos”.

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Vaqueiros E Cantadores eram os heróis mais populares de um Nordeste perdido no tempo, quando ainda se vivia como no século XVIII. O sertanejo mandava fazer uma roupa de casimira para durar a vida toda, ser exibida nas festas, no casamento e ser enterrado com ela. As filhas usavam os trajes das mães. Os velhos tomavam banho aos sábados, abençoavam com os dedos unidos e sabiam algumas palavras de latim. O gado se espalhava pelos descampados, reunido nas vaquejadas alegres, celebrado em romances populares, nos quais o grande herói era o boi, rebelde, desafiando o vaqueiro, glorificado pelo povo, o boi Espácio, o boi Surubim.
O sertão vivia de ouvido atento às histórias dos cantadores, quase todos analfabetos, versejando velhos romances, como o da sábia e astuta donzela Teodora, da Princesa Megalona, da Imperatriz Porcina, com as suas figuras clássicas da tradição medieval: cavaleiros andantes, virgens fiéis, paladinos cristãos; os testamentos de Judas em pé-quebrado (espécie de quadra, quase sempre de sete sílabas); os A.B.C., contando a gesta de um touro, um bode, uma onça suçuarana; os pelo-sinais e orações satíricos, todos eles documentados e estudados com insuperável conhecimento por Luís da Câmara Cascudo.
Os desafios entre os grandes mestres paralisavam a vida ao redor e ficavam perpetuados na mente do povo. Muitas vezes, os sertanejos se cotizavam para promover esses encontros.
Os cantadores famosos do sertão, cujas biografias Cascudo registra – Inácio da Catingueira, Francisco Romano, Rio Preto, Leandro Gomes de Barros, Francisco das Chagas Batista, tantos outros -, gozavam de imensa popularidade e fixavam em seus versos, como reportagens vivas e palpitantes, a vida do sertão, seus santos e cangaceiros, padre Cícero e Lampião, unidos pela mesma admiração, a admiração que o sertanejo tem pela bondade e pela coragem.
No prefácio de Vaqueiros E Cantadores, publicado em 1937, o autor comenta sobre o seu trabalho: Reúno neste livro quinze anos de minha vida. Notas, leituras, observações. O material foi colhido diretamente na memória duma infância sertaneja, despreocupada e livre. Os livros, opúsculos, manuscritos, confidências, que mais se passou posteriormente, vieram reforçar, retocando o “instantâneo” que meus olhos meninos haviam fixado outrora. Dezenas de vezes voltei ao sertão de quatro estados e nunca deixei de registrar fatos, versos, “causos”.

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