Quatrocentos Contra Um

Quatrocentos Contra Um: Uma História Do Comando Vermelho - "Aqui é o cemitério de todas as poesias", costumava ironizar um ex-diretor da Casa de Detenção, o maior presídio da América Latina, em São Paulo. Poesia, aqui, não no sentido de alma da literatura, mas como descompasso entre as teorias e as práticas cotidianas. De fato, as teorias no sistema prisional foram e continuam sendo sepultadas. Não só pelo massacre de 111 presos de uma só vez, em outubro de 1992, mas pela sucessão dos fatos.


O Comando Vermelho nasceu no Rio de Janeiro e tem em William da Silva Lima um de seus artífices. Mas ele ressalva que não se trata propriamente do nome de uma organização e sim de um comportamento, "uma forma de sobreviver na adversidade".
Talvez seja este um grande problema na literatura engajada: quando autor e personagem se fundem.
Tem sido assim com textos de ex-prisioneiros políticos, obcecados em fixar as diretrizes de uma causa, enfatizar o comportamento épico de uma militância, enaltecer os pares e execrar os inimigos. Se o texto pretende ser catarse, antes de tudo, podemos até compreender — psicologicamente — as emoções de quem estava no epicentro de um determinado momento, histórico inclusive.
Tais limites devem ser levados em consideração na leitura de Quatrocentos Contra Um. Coloca-se a vida nos basfond, não exatamente lúmpen, de uma forma direta. O choque térmico é inevitável: inclui os dramas do cárcere, sua imundície e violência, as relações conflitivas entre presos, muitas vezes com extrema crueldade, a convivência entre prisioneiros comuns e prisioneiros políticos em meios aos anos de chumbo, quando assaltar banco era motivo de enquadramento na Lei de Segurança Nacional.
Quatrocentos Contra Um abre com uma citação da Constituição do Império, na qual um mínimo de dignidade era previsto para prisão e prisioneiros. Mas se poderia recuar no tempo: os regulamentos das prisões da Inquisição exigiam condições mais suaves do que as que temos nos cárceres de nosso tempo. A questão é que, como bem observa Michel Foucault em Vigiar e Punir, as muralhas dos estabelecimentos penais não impedem, sozinhas, ninguém de fugir: sua verdadeira função é esconder o que se passa lá dentro.

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Quatrocentos Contra Um: Uma História Do Comando Vermelho – “Aqui é o cemitério de todas as poesias”, costumava ironizar um ex-diretor da Casa de Detenção, o maior presídio da América Latina, em São Paulo. Poesia, aqui, não no sentido de alma da literatura, mas como descompasso entre as teorias e as práticas cotidianas. De fato, as teorias no sistema prisional foram e continuam sendo sepultadas. Não só pelo massacre de 111 presos de uma só vez, em outubro de 1992, mas pela sucessão dos fatos.
O Comando Vermelho nasceu no Rio de Janeiro e tem em William da Silva Lima um de seus artífices. Mas ele ressalva que não se trata propriamente do nome de uma organização e sim de um comportamento, “uma forma de sobreviver na adversidade”.
Talvez seja este um grande problema na literatura engajada: quando autor e personagem se fundem.
Tem sido assim com textos de ex-prisioneiros políticos, obcecados em fixar as diretrizes de uma causa, enfatizar o comportamento épico de uma militância, enaltecer os pares e execrar os inimigos. Se o texto pretende ser catarse, antes de tudo, podemos até compreender — psicologicamente — as emoções de quem estava no epicentro de um determinado momento, histórico inclusive.
Tais limites devem ser levados em consideração na leitura de Quatrocentos Contra Um. Coloca-se a vida nos basfond, não exatamente lúmpen, de uma forma direta. O choque térmico é inevitável: inclui os dramas do cárcere, sua imundície e violência, as relações conflitivas entre presos, muitas vezes com extrema crueldade, a convivência entre prisioneiros comuns e prisioneiros políticos em meios aos anos de chumbo, quando assaltar banco era motivo de enquadramento na Lei de Segurança Nacional.
Quatrocentos Contra Um abre com uma citação da Constituição do Império, na qual um mínimo de dignidade era previsto para prisão e prisioneiros. Mas se poderia recuar no tempo: os regulamentos das prisões da Inquisição exigiam condições mais suaves do que as que temos nos cárceres de nosso tempo. A questão é que, como bem observa Michel Foucault em Vigiar e Punir, as muralhas dos estabelecimentos penais não impedem, sozinhas, ninguém de fugir: sua verdadeira função é esconder o que se passa lá dentro.

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