Universidade, Poder E Direitos Humanos

Universidade, Poder E Direitos Humanos - Em um momento de grande perigo, em que a relativa segurança de que desfrutávamos se encontra seriamente ameaçada, em que ocorre de modo avassalador o desmonte de políticas públicas e dos pequenos avanços em direitos sociais duramente conquistados, em que se mostra sem disfarces a força dos conglomerados econômicos, em que os meios de comunicação de massas pautam e dirigem os debates públicos de forma a justificar a barbárie, nos perguntamos como foi possível que um golpe tão abrangente e tão célere tenha ocorrido sem que houvesse maciça resistência da população.


Na verdade, lembrando Walter Benjamin, não aprendemos nada relevante se não lembrarmos que o “estado de exceção” é, antes, a regra nas sociedades capitalistas, e que a assim denominada crise opera como justificativa para a desconsideração de tudo o que se imaginava que fossem direitos adquiridos.
De fato, um observador atento teria identificado o processo que tenta tornar legítima a ordem de exceção nas transformações que foram sendo impostas cotidianamente na universidade, principalmente durante os últimos anos.
Progressivamente foram se tornando irrelevantes dentro da disputa política as forças democráticas, substituídas por imperativos sistêmicos operacionais, técnicos e produtivistas. As formas cotidianas que orientam o trabalho docente impuseram progressivamente a lógica da competitividade; o desempenho acadêmico passou a ser medido quantitativamente, dirigindo a ação para fins estranhos ao trabalho intelectual e crítico; o tempo necessário para a reflexão aprofundada e relevante se tornou estranho ao cotidiano ocupado com planilhas e protocolos; e, finalmente, o pesquisador passou a ser visto como um empreendedor de sua própria produção, muitas vezes pagando de seu próprio bolso para publicar textos e livros.
Quem não se adapta a esses imperativos sistêmicos se vê ameaçado de rebaixamento e exclusão, enquanto os adaptados adoecem de exaustão, tornam-se deprimidos ou dependentes de fármacos, tentando desesperadamente formas de alcançar a “performance” exigida pela instituição.
A organização dos trabalhadores da universidade, a despeito de eventuais êxitos, não conseguiu resistir à abrangência e profundidade das mudanças que se efetuaram no cotidiano de forma silente, sob a capa da modernização e do aperfeiçoamento técnico, mas na verdade promovendo uma profunda, progressiva e
pervasiva adaptação da universidade às normas do mercado global.

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Na verdade, lembrando Walter Benjamin, não aprendemos nada relevante se não lembrarmos que o “estado de exceção” é, antes, a regra nas sociedades capitalistas, e que a assim denominada crise opera como justificativa para a desconsideração de tudo o que se imaginava que fossem direitos adquiridos.
De fato, um observador atento teria identificado o processo que tenta tornar legítima a ordem de exceção nas transformações que foram sendo impostas cotidianamente na universidade, principalmente durante os últimos anos.
Progressivamente foram se tornando irrelevantes dentro da disputa política as forças democráticas, substituídas por imperativos sistêmicos operacionais, técnicos e produtivistas. As formas cotidianas que orientam o trabalho docente impuseram progressivamente a lógica da competitividade; o desempenho acadêmico passou a ser medido quantitativamente, dirigindo a ação para fins estranhos ao trabalho intelectual e crítico; o tempo necessário para a reflexão aprofundada e relevante se tornou estranho ao cotidiano ocupado com planilhas e protocolos; e, finalmente, o pesquisador passou a ser visto como um empreendedor de sua própria produção, muitas vezes pagando de seu próprio bolso para publicar textos e livros.
Quem não se adapta a esses imperativos sistêmicos se vê ameaçado de rebaixamento e exclusão, enquanto os adaptados adoecem de exaustão, tornam-se deprimidos ou dependentes de fármacos, tentando desesperadamente formas de alcançar a “performance” exigida pela instituição.
A organização dos trabalhadores da universidade, a despeito de eventuais êxitos, não conseguiu resistir à abrangência e profundidade das mudanças que se efetuaram no cotidiano de forma silente, sob a capa da modernização e do aperfeiçoamento técnico, mas na verdade promovendo uma profunda, progressiva e
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